Ao fim da tarde, depois da lida
de sábado e como é hábito lá no monte ficámos algum tempo nas lérias, eu e o
Velho Marrafa.
A conversa encaminhou-se para as
dificuldades de muitas pessoas e o fardo pesado que carregam. O Velho Marrafa
dizia que as pessoas do Alentejo, sobretudo os mais velhos, estão habituadas a
fardos pesados, a vida sempre lhes foi dura. Para exemplificar, falou do longo
caminho que foi percorrido desde que começou a guardar porcos aos nove anos, ao
trabalho de sol a sol, muitas vezes até sete dias na semana, a passagem por ter
e ganhar os feriados, passar a trabalhar só as oito horas e a riqueza de ter
férias pagas.
No fim da sua viagem o Mestre Zé conclui com
a tranquilidade que nele parece um ser e não um estar que culpa de muitos problemas, de hoje e de sempre, é dos atravessadiços. Provavelmente, tal como eu,
ficarão intrigados com a referência.
Pois o Velho Marrafa esclareceu
que os atravessadiços são aquelas pessoas que sendo assim
"atravessadas" só pensam nelas, nunca pensam nos outros. Fazem tudo
para sair beneficiadas mesmo que isso possa prejudicar os outros. Depois, à
medida que têm mais coisas e mandam mais, ainda mais querem ter e mandar e como
são atravessadiços, causam muitos problemas aos outros sem se preocuparem com
isso. O Velho Marrafa rematava sem a menor dúvida, "Veja-me lá Senhor Zé
se os que mandam, os que são grandes, se importam alguma coisa com os pequenos?
Nada, mesmo nada".
Não é assim uma teoria muito
sofisticada mas o Velho Marrafa é capaz de ter alguma razão. Anda por aí muito
atravessadiço em lugar de mando.
São também assim os dias do Alentejo.
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