terça-feira, 22 de agosto de 2017

DOS RAPAZES, DAS RAPARIGAS E DAS DIFERENÇAS QUE NÃO EXISTEM.

Segundo o Público, a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género está a analisar livros de actividades produzidos pela Porto Editora destinados a crianças dos 4 aos 6 anos devido à apresentação de actividades dirigidas especificamente a rapazes e a raparigas em que o grau de dificuldade é mais elementar para as raparigas e a apresentação é também diferente conforme se verifica nos exemplos divulgados.
De facto o material apresentado causa, no mínimo, uma enorme perplexidade mas é mais do que isso.
Em primeiro lugar, importa sublinhar que nada na evidência científica disponível sobre o desenvolvimento das crianças permite suportar a adequação do material apresentado que é grave do ponto de vista da mensagem que sustenta, as raparigas entre os 4 e os 6 anos não são “apenas” diferentes dos rapazes da mesma idade, têm menores capacidades cognitivas.
Em segundo lugar, o pressuposto educativo, que subjacente às actividades. Nos dois exemplos conhecidos, a descoberta de um labirinto, um clássico em matéria de actividades, o que se dirige aos rapazes, mais difícil, tem um rapaz como protagonista e como instrução, “Ajuda o Bruno a encontrar o caminho para o seu barco de piratas, traçando o seu percurso através do labirinto “. O que se dirige às raparigas tem como protagonista uma menina vestida de “princesa” e a instrução é “Ajuda a Francisca a encontrar a sua coroa de princesa, traçando o seu percurso através do labirinto” sendo, como já se referiu bastante mais fácil.
Para além da falta de base científica está patente uma visão educação fortemente marcada pela estereotipia do género e criadora de equívocos e discursos sem outra sustentação que não o preconceito, o esterótipo e a discriminação.
Seria mais fácil pensar que se trata de mais um produto da “silly season” mas é bem mais grave do que isso. Aguardo algum esclarecimento por parte da Porto Editora que no momento em que escrevo não é conhecido.

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