Depois de terminada a entrega das
candidaturas para as próximas autárquicas parece verificar-se um aumento de
candidaturas de cidadãos ou movimentos independentes para além da habitual presença de “independentes” nas
candidaturas partidárias. Esta situação acontece apesar das disposições da Lei
Eleitoral Autárquica serem ainda mais amigáveis para candidaturas com origem
nos aparelhos partidários.
Em princípio e do meu ponto de
vista, este movimento pode reforçar a saúde da democracia que não deve esgotar-se nas estruturas partidárias. Aliás, a designação é curiosa, os
independentes, serão os que estão fora dos aparelhos partidários e os, presumo que
"dependentes", serão os que "dependem" das estruturas
partidárias. Teremos, pois, que nos decidir por independentes ou por dependentes.
No entanto, é de referir que um
número significativo de “independentes” que se apresentaram e apresentarão a
eleições enquanto tal, o fizeram por não terem sido objecto de escolha dos
partidos a que pertenciam ou em situação de litígio, ou seja, se tivessem sido
os escolhidos ou não tivessem tido algum desaguisado partidário ter-se-iam
candidatado pelo “partidinho”. Esta nota não retira a importância de
candidaturas verdadeiramente fora dos aparelhos partidários.
A verdade, muitas vezes o tenho
escrito, é que no actual quadro político-administrativo é muito difícil a
intervenção cívica, no sentido político, fora da tutela dos aparelhos
partidários cuja praxis criou uma “partidocracia” que minou a confiança e tem
provocado o afastamento dos cidadãos pelo que se percebe a afirmação da
necessidade de mudança.
Verifica-se também que a
capacidade de mobilização dos partidos se dirige, sobretudo, a uma minoria de
pessoas que emerge dos respectivos aparelhos que, assim, podem aceder e manter
alguma forma de poder e a uma maioria que enche autocarros, recebe uns brindes
e tem um almocinho de borla. A partidocracia não atrai porque os partidos se
tornam donos da consciência política das pessoas, veja-se o espectáculo
deprimente da Assembleia da República e o desempenho de boa parte dos
deputados, salvo honrosas excepções vota-se o que o partido manda,
independentemente da consciência.
Reconhece-se hoje que as camadas
mais novas, sobretudo mas não só, atravessam uma situação complexa envolvendo
os valores, a confiança nos projectos de vida, os estilos de vida, etc. Neste
quadro, a adesão à intervenção política, tal como se verifica genericamente em
Portugal, parece mais uma parte do problema, é velha a partidocracia para
responder a problemas novos, que um caminho para a solução.
Creio que o descontentamento e
desconfiança de muitos dos cidadãos, traduzidos em percentagens de abstenção
acima dos 50%, mostram que importa pensar numa participação política para lá
dos partidos. Várias manifestações com grande mobilização que escaparam à lógica
da partidocracia, bem como iniciativas de grupos de cidadãos mobilizados por
causas ou algumas candidaturas verdadeiramente fora do espectro partidário, dão
sinais nesse sentido.
De tudo isto resulta, como muitas
vezes refiro, o afastamento das pessoas pelo que a construção de outras formas
de participação cívica parece ser a única forma possível de reformar o quadro
político que temos, ou seja, os partidos ou definham ou mudam, pela pressão do
exterior.
Existe, tem que existir política
para além dos partidos, que se reformam ou tenderão a implodir com riscos para
própria democracia cuja saúde já está debilitada.
De qualquer forma, como se diz no
Meu Alentejo, deixe lá ver.
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