O Público dedica de novo algum espaço
ao Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular. Afirma em título que “Mais de 20% das escolas vão poder escolher
como ensinar os alunos”. No mesmo sentido, o Observador titula “230 escolas vão poder escolher como querem
ensinar os alunos” e o DN afirma “236
escolas vão mudar a maneira de ensinar já em Setembro”.
Será?
Antes de mais reafirmar a
necessidade de mudanças em matéria de currículo, de autonomia, de recursos e
organização das escolas, etc., dispensando-me de retomar as razões para este
entendimento. Também reafirmar a ideia de que a mudança deve ser testada e avaliada
antes de generalizada. A forma como este processo está a decorrer não parece
suficientemente tranquilizadora
Por outro lado, e como também já
disse, não simpatizo com a recorrente referência à necessidade de inovação em
educação ou de uma "nova forma de ensinar" e, muito menos, à
"revolução" que virá.
O Projecto de Autonomia e
Flexibilidade Curricular, embora não se conheça a lista de escolas, envolverá,
segundo o Público, algumas turmas de 236 escolas, 171 públicas, 61 privadas e 4
portuguesas no estrangeiro, As turmas escolhidas serão do 1º, 5º, 7º, 10º ano,
e de 1º ano de formação de cursos organizados em ciclos de formação.
O Projecto tem, do meu ponto de
vista, alguns aspectos que me parecem ir no caminho que entendo como mais
ajustado para defender a qualidade dos processos educativos e para todas os
alunos mas ainda haverá muita estrada para andar. Este caminho deverá ter com
eixos estruturantes, entre outros, autonomia das escolas e dos professores que
sustentem diferenciação em processos e metodologias, ajustamentos nos conteúdos
e organização dos currículos e, porventura, dos ciclos de ensino, recursos
humanos e dispositivos de apoio competentes, adequados e oportunos, regulação do sistema.
Ora o Projecto, embora, como disse tenha aspectos positivos está longe de, tal
como está desenhado, poder ser a mudança, será, espero, um passo, apenas um
passo.
Neste sentido e sabendo que se mantém toda a esttrutura curricular em vigor entender que as escolas
envolvidas vão “poder escolher como ensinam os alunos” é manifestamente exagerado
e levanta até uma outra questão.
O que vai acontecer em Setembro a
todas as outras turmas dos 713 agrupamentos e 95 escolas não agrupadas, além
sistema privado e de outras instituições? Os professores e direcções ficarão
condenados ao sofrimento por falta de um Projecto que lhes permita ter alguma
decisão sobre o que acontece na sala de aula?
Esta espécie de “pensamento
mágico “ face ao Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular entendendo
que a autonomia e a diferenciação chegam em Setembro a alguns eleitos justifica
alerta, a realidade não é a projecção dos nossos desejos, é mais complexa que
isso.
Não podemos alimentar a ideia de
um sistema dividido em TEIP, Territórios Educativos de Intervenção do Projecto
e Territórios Educativos de Intervenção Possível. Nos primeiros escolhe-se como ensinar os alunos, nos outros ... aturam-se os alunos com o arsenal pedagógico e didáctico de sempre com um currículo não flexibilizado para algumas turmas. Aliás, como é sabido em muitíssimas escolas acontecem diariamente excelentes trabalhos, com muito bons resultados que não devia ser esuecidos, antespelo contrário. Daí o meu cansaço face à narrativa da "inovação".
Uma nota final para reafirmar o
desejo de que tudo corra o melhor possível. Já vai sendo tempo e já merecemos,
sobretudo alunos e professores.
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