quinta-feira, 10 de agosto de 2017

"AS ESCOLAS VÃO ESCOLHER COMO ENSINAR OS ALUNOS". É MESMO?

O Público dedica de novo algum espaço ao Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular. Afirma em título que “Mais de 20% das escolas vão poder escolher como ensinar os alunos”. No mesmo sentido, o Observador titula “230 escolas vão poder escolher como querem ensinar os alunos” e o DN afirma “236 escolas vão mudar a maneira de ensinar já em Setembro”.
Será?
Antes de mais reafirmar a necessidade de mudanças em matéria de currículo, de autonomia, de recursos e organização das escolas, etc., dispensando-me de retomar as razões para este entendimento. Também reafirmar a ideia de que a mudança deve ser testada e avaliada antes de generalizada. A forma como este processo está a decorrer não parece suficientemente tranquilizadora
Por outro lado, e como também já disse, não simpatizo com a recorrente referência à necessidade de inovação em educação ou de uma "nova forma de ensinar" e, muito menos, à "revolução" que virá.
O Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular, embora não se conheça a lista de escolas, envolverá, segundo o Público, algumas turmas de 236 escolas, 171 públicas, 61 privadas e 4 portuguesas no estrangeiro, As turmas escolhidas serão do 1º, 5º, 7º, 10º ano, e de 1º ano de formação de cursos organizados em ciclos de formação.
O Projecto tem, do meu ponto de vista, alguns aspectos que me parecem ir no caminho que entendo como mais ajustado para defender a qualidade dos processos educativos e para todas os alunos mas ainda haverá muita estrada para andar. Este caminho deverá ter com eixos estruturantes, entre outros, autonomia das escolas e dos professores que sustentem diferenciação em processos e metodologias, ajustamentos nos conteúdos e organização dos currículos e, porventura, dos ciclos de ensino, recursos humanos e dispositivos de apoio competentes, adequados e oportunos, regulação do sistema. Ora o Projecto, embora, como disse tenha aspectos positivos está longe de, tal como está desenhado, poder ser a mudança, será, espero, um passo, apenas um passo.
Neste sentido e sabendo que se mantém toda a esttrutura curricular em vigor entender que as escolas envolvidas vão “poder escolher como ensinam os alunos” é manifestamente exagerado e levanta até uma outra questão.
O que vai acontecer em Setembro a todas as outras turmas dos 713 agrupamentos e 95 escolas não agrupadas, além sistema privado e de outras instituições? Os professores e direcções ficarão condenados ao sofrimento por falta de um Projecto que lhes permita ter alguma decisão sobre o que acontece na sala de aula?
Esta espécie de “pensamento mágico “ face ao Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular entendendo que a autonomia e a diferenciação chegam em Setembro a alguns eleitos justifica alerta, a realidade não é a projecção dos nossos desejos, é mais complexa que isso.
Não podemos alimentar a ideia de um sistema dividido em TEIP, Territórios Educativos de Intervenção do Projecto e Territórios Educativos de Intervenção Possível. Nos primeiros escolhe-se como ensinar os alunos, nos outros ... aturam-se os alunos com o arsenal pedagógico e didáctico de sempre com um currículo não flexibilizado para algumas turmas. Aliás, como é sabido em muitíssimas escolas acontecem diariamente excelentes trabalhos, com muito bons resultados que não devia ser esuecidos, antespelo contrário. Daí o meu cansaço face à narrativa da "inovação".
Uma nota final para reafirmar o desejo de que tudo corra o melhor possível. Já vai sendo tempo e já merecemos, sobretudo alunos e professores.

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