O processo de colocação e contratação dos professores parece estar a acontecer mais cedo que o habitual o
que se saúda. Diminuiu também o número de professores contratados decorrente da
vinculação de muitos docentes que têm suprimido necessidades transitórias do
sistema durante imensos anos num atropelo a direitos que foi, aliás reconhecido,
pela União Europeia.
No entanto, continuam a referir-se
insuficiência de docentes e algumas falhas processuais ou na definição de
critérios e prioridades.
Um dia, quero acreditar, todo
este processo decorrerá sem sobressaltos, com regras claras e em tempo
oportuno.
No entanto, sou menos optimista relativamente ao estabelecimento de uma visão partilhada sobre as necessidades de docentes no
sistema educativo. A definição desta necessidade é uma matéria complexa e com
múltiplas variáveis que deve ser tratada pelos vários intervenientes de forma
séria, competente e serena o que não tem acontecido.
Para além das oscilações da
demografia que têm sido abordadas de forma habilidosa e não justificam a saída
de dezenas de milhares de professores nos últimos anos, entre essas variáveis
destacam-se a criação dos insustentáveis mega-agrupamentos, mudanças
curriculares destinadas a poupar professores e o aumento de alunos por turma
que, não servindo a qualidade da educação, reduziu o número de lugares de
docentes e provocou uma longa marcha para fora a milhares de professores.
No entanto, sempre se manteve a
existência de milhares de professores contratados, alguns durante décadas, para
suprir eternas necessidades transitórias.
A contratação destes docentes foi
uma decisão positiva que já se reflecte mas insuficiente nos seus efeitos.
Conhecendo os territórios
educativos do nosso país, sempre defendi fazer sentido que os recursos que já
estão no sistema, pelo menos esses, o que inclui os contratados com muitos anos
de experiência, fossem aproveitados, por exemplo, em trabalho de parceria
pedagógica, para possibilitar a existência em escolas mais problemáticas de
menos alunos por turma ou ainda que se utilizassem em dispositivos de apoio a
alunos em dificuldades. Estas medidas no âmbito de uma autonomia real das
escolas seriam possíveis e um contributo importante.
Os estudos e as boas práticas
mostram que a presença de dois professores na sala de aula são um excelente
contributo para o sucesso na aprendizagem e para a minimização de problemas de
comportamento bem como se conhece o efeito do apoio precoce às dificuldades dos
alunos. Também se sabe que programas de tutoria desenvolvidos com tempo e
recursos adequados são positivos e eficientes para lidar com estas duas
questões. A tão incensada flexibilização curricular e diferenciação de práticas
seriam bem mais eficazes com dispositivos de parceria regulada.
É ainda verdade que para que
muitos alunos como NEE não estejam "entregados" nas escolas mas
incluídos com apoios adequados, com níveis de participação, aprendizagem e
pertença são necessários recursos.
Sendo exactamente estas questões
que mais afectam o nosso sistema educativo, talvez o investimento resultante da
presença de dois docentes ou de mais e melhores apoios aos alunos, bem como de
programas de tutoria com tempo e recursos, compense os custos posteriores programas
“mágicos” de combate ao insucesso, medidas remediativas ou, no fim da linha, a
exclusão, com todas as consequências conhecidas.
É só fazer contas. Em educação,
apesar da necessidade de contenção e combate ao desperdício não existe despesa,
existe investimento.
Sem comentários:
Enviar um comentário