terça-feira, 29 de agosto de 2017

O MUNDO ÀS COSTAS

Uma vez mais, uma chamada de atenção para o mundo que os miúdos carregam às costas.
A Deco realizou um estudo envolvendo alunos e seis escolas públicas e privadas da região de Lisboa segundo o qual dois terços dos alunos carregam nas mochilas um peso superior aos 10% do peso corporal de acordo com a OMS.
A questão é recorrente e em Março a Comissão Parlamentar de Educação e Ciência decidiu criar um grupo de trabalho para análise da Petição sobre o peso excessivo das mochilas escolares. O objectivo seria a tentativa de apresentação de uma iniciativa legislativa que envolva o contributo integrado das diferentes bancadas parlamentares.
A tradicional dificuldade no estabelecimento de consensos relativamente à educação deverá ter obstado a que se conheça algum resultado desta iniciativa.
Apesar entender que nem tudo deveria carecer de ser legislado, o bom senso deveria bastar mas assim não é, esperemos que algo surja no sentido de minimizar a situação que para algumas crianças é mesmo pesada. Daí a insistência.
Como é óbvio esta preocupação, pelas suas implicações e riscos, imediatos e a prazo, para a saúde dos miúdos, deve merecer a atenção de pais e educadores no sentido de a minimizar, embora, por outro lado, o seu transporte configure um exercício físico que disfarça a ausência de espaços e equipamentos adequados em muitas das nossas escolas e combata uma infância sedentarizada, a troco, é certo, de uma coluna castigada.
No entanto, aproveitando o espaço e o tempo de reflexão criados talvez também fosse útil olhar de uma forma mais alargada para o peso excessivo que muitas crianças carregam nas suas costas.
As mochilas escolares serão apenas um dos carregos, por assim dizer, mas existem outros.
Estou a pensar no peso da pressão para que sejam excelentes.
Estou a pensar no peso da pressão para que sejam o que não são e da pressão para que não sejam o que são.
Estou a pensar no peso da pressão de viver demasiado só.
Estou a pensar no peso da pressão que leva a que, por vezes, só gritando e agitando-se se façam ouvir.
Estou a pensar no peso da pressão de não conhecer o caminho e sentir-se perdido.
extou a pensar no peso da exclusão que muitos sofrem.
Estou a pensar no peso da pressão de actividades sem fim e, às vezes, sem sentido. Estou a pensar no pessoa da pressão do depressa e bem.
Estou no peso da pressão para sejam diferentes e na pressão para que sejam iguais.
Estou a pensar no peso da pressão causada por famílias demasiado distantes ou por famílias demasiado próximas ou ainda por famílias ausentes.
Na verdade, há miúdos que carregam o mundo às costas. Entende-se as preocupações dos pediatras, ortopedistas, outros especialistas e de muitos de nós com a coluna dos miúdos.

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