Era uma vez um Rapaz que tinha uma estranha forma de vida.
Aquilo que fazia, dizia ou pensava estava muitas vezes em desacordo com o que
se desejava para gente da sua idade. Não gostava da maior parte das actividades
escolares, apenas se envolvia em actividades desportivas e em algumas coisas
ligadas a música. Em consequência já contava com alguns chumbos. Quando estava
nas aulas, no intervalo das muitas faltas, o seu comportamento era mau,
desafiador da autoridade dos professores e provocador dos colegas, de alguns
colegas, sobretudo os que sobressaíam pelas qualidades escolares.
Nos tempos de intervalo na escola não era raro o
envolvimento do Rapaz em brigas que quase sempre provocava.
Fora da escola, o Rapaz já não acatava bem as regras de
casa, poucas e inconsistentes, e o seu comportamento passava pela provocação e
pela habitual animosidade para com a generalidade das pessoas. Como seria de
esperar, apenas se dava sem problemas com um grupo pequeno de amigos que
liderava e com quem partilhava esta estranha forma de vida.
Quando se falava deste Rapaz, a maior parte das pessoas, na
escola e no bairro, referiam-no como um destemido e indomável ser que não
conhecia limites.
Ninguém sabia que o Rapaz quando falava de si para si, se
sentia, ele próprio, nos limites. Em muitas noites adormecia com um enorme
pavor de que no dia seguinte alguém percebesse o medo que sentia da sua
estranha forma de vida e de se esquecer de vestir ao sair de casa a pele com
que sobrevivia, a pele de um destemido e indomável Rapaz.
Na verdade, e sem que isto sirva para desvalorizar o que
deve ser valorizado, existem muitos rapazes e raparigas que vivem estranhas
formas de vida e vivem-nas com medo, sem prazer e em sofrimento. Mesmo quando
querem parecer de ferro.
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