O JN de ontem trazia um trabalho sobre
o ensino doméstico, encarado como um percurso educativo alternativo à
frequência da escola.
Esta opção por parte de algumas
famílias radica numa recusa ou reserva das famílias relativamente aos conteúdos
curriculares centralizados e massificados gerados pela escolaridade obrigatória
e universal, entendimento que também se associa por vezes a convicções
religiosas e também a uma apreciação negativa dos ambientes escolares e dos
seus eventuais impactos nas crianças e adolescentes.
Não discuto a legitimidade das
opções familiares embora se saiba que em alguns países não é permitida, sei também das experiências positivas que alguém terá sempre para contar mas em termos de princípio tenho
algumas reservas sobre este processo e algumas das suas implicações. Uma
análise profunda não cabe neste espaço embora me pareça que, por um lado, é uma
opção a que poucas famílias podem aceder por razões óbvias e por outro, os muitos
problemas e de diferente natureza que a escolarização coloca se devem minimizar,
melhorando, para todos, insisto para todos, a qualidade dos processos.
No entanto e de forma breve, uma referência não exaustiva a questões que se podem colocar, a densidade e natureza
da rede social experienciada pelas crianças e adolescentes, a diversidade de
actividades, o desempenho e contacto com diferentes papéis e diferentes
contextos, a autonomia, os “limites” na acção didáctica (não educativa) dos
pais que leva à necessidade de “orientadores” também conhecidos por “explicadores”.
Acresce ainda que se pode
discutir o tempo para esta opção. Na peça do JN a Professora Inês, Peceguina, do
Movimento Educação Livre fala na possibilidade de que o ingresso na escola
possa vir a ser apenas no ensino superior. E porque não continuar também o
ensino doméstico durante a formação superior?
O que me faz reflectir, e
inquieta, é o que parece significar este tipo de opções. Senão vejam.
Não se desloque às livrarias -
encomende via net;
Não se desloque para comprar
discos – encomende via net;
Não vá ao cinema – compre o DVD ou veja nos canais disponíveis em casa;
Não vá a concertos – veja o DVD, o YouTube e todas as outras opções.
Compre casa num condomínio
fechado com espaço de convívio!!, e campo de jogos, piscina, etc.
Não se desloque às compras –
encomende via net;
Não vá ao banco – tem o
homebanking;
Não saia para trabalhar – está aí
o tele-trabalho;
Não saia para estudar – tem
e-learning:
Não saia para conversa e convívio
– tem a conversa na net, aliás com várias opções;
Não saia para … - a televisão
traz.
Se a gente não sai… que caminho é
o nosso? Vamos juntos ou vamos fechados?
3 comentários:
O ensino doméstico nao é necessariamente fechado. Há famílias que decidem pelo ensino doméstico e aproveitam para dar a volta ao mundo :)
Sou professora do 2º Ciclo, duma escola pública de Lisboa e adorei o texto.
Vamos juntos. Só se aprende a socializar, socializando.
Enviar um comentário