Esta questão, a paternidade de
padres e freiras que durante séculos abandonam milhares de crianças fruto do “pecado”
negando-lhes um pai ou uma mãe, é apenas um das muitas questões que evidencia o
imobilismo da igreja católica.
Considerando a influência que
ainda mantém em muitas comunidades, recordo que D. Manuel Martins, bispo emérito
de Setúbal, afirmava em 2012, em entrevista ao JN, que a Igreja não está à
altura do momento, está "atrasada" e não presta atenção às
"transformações do mundo".
A afirmação de D. Manuel Martins
lembrou-me o conhecido enunciado, "no entanto ela move-se". Ao que a
história ou a lenda rezam, no séc. XVII Galileu Galilei reagiu com esta mítica
afirmação à sua condenação no Tribunal do Santo Ofício pela defesa do modelo
heliocêntrico, a Terra move-se em volta do Sol.
Do meu ponto de vista, a
reconhecida perda da influência da Igreja Católica, sobretudo nos países mais
desenvolvidos, deve-se também ao seu imobilismo, à forma conservadora como não
reage às óbvias mudanças sociais, políticas, económicas e culturais sustentando
um progressivo afastamento da vida das pessoas, como reconhecia D. Manuel
Martins.
Um dia, talvez a instituição
Igreja aceite e perceba a importância e a necessidade de mudança no discurso e
nas atitudes relativas ao divórcio e casamento, às uniões entre pessoas do
mesmo sexo e adopção por parte destes casais, à anti-concepção, ao celibato dos
padres, à abertura do sacerdócio às mulheres, o combate à ostentação visível em
parte das estruturas da igreja, etc.
No entanto, considerando o que se
tem ouvido e é conhecido das intervenções da hierarquia da Igreja, não creio
que, apesar de alguns comportamentos e discursos do Papa Francisco e também da
significativa mudança de estilo face ao seu antecessor Bento XVI, seja de
esperar um movimento de alteração significativa nas posições da Igreja sobre
estas matérias.
Eppur si muove.
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