Ainda uma referência aos resultados
do inquérito realizado pelo Alexandre Henriques do blogue ComRegras, "O que pensam os diretores e os presidentesde Conselhos Gerais sobre questões pertinentes da escola portuguesa",
dirigido a directores de escolas e agrupamentos e a presidentes de Conselhos
Gerais. Dada a pertinência dos vários tópicos justifica-se o retorno.
Umas notas breves sobre algo que
me pareceu merecedor de reflexão a percepção dos directores sobre a
valorização e reconhecimento do seu trabalho.
De um lado mais positivo, 62.2%
dos directores sente o seu trabalho reconhecido e valorizado pelos alunos,
57.4% pelos não docentes, 66.3% pelos docentes e 57.7% pelos pais.
Parece-me sobretudo importante
registar que apenas 8.3% sintam o seu trabalho valorizado e reconhecido pelo ME
e que ainda menos, 1.6%, se sinta reconhecido e valorizado pelos sindicatos.
A alteração do modelo de gestão
das escolas passando para um modelo de direcção unipessoal e de um processo de
eleição que de uma base eleitoral universal considerando a comunidade educativa
e envolvendo pais e alunos passa para um eleição realizada pelos Conselhos
Gerais trouxeram alterações substantivas às escolas, ao seu modelo de gestão,
ao seu clima institucional e funcionamento democrático.
O processo eleitoral e as
candidaturas, bem como a própria constituição do Conselho geral, são
frequentemente palco das lutas e equilíbrios da partidocracia no plano local.
Por outro lado, esta menor
representatividade dos directores considerando o corpo docente e não docent da escola ou
agrupamento face ao corpo pode explicar os directores participantes se sintam menos reconhecidos e valorizados.
Como já escrevi, estarei
certamente errado, creio que a direcção unipessoal da escolas e agrupamentos e a reorganização da rede, diminuindo o número de directores face ao número de anteriores
conselhos executivos se inscreveram numa tentativa de controlo político do
sistema por parte da tutela independentemente do conjunto de razões também
divulgadas.
Temos, portanto, um cenário, em
que o director será responsável perante a tutela por uma escola ou agrupamento
mas apenas 8.3% dos directores sentem o seu trabalho valorizado e reconhecido pelo
ME. Creio que isto configura uma situação altamente desconfortável e que não
pode deixar de ter impacto no clima das escolas e na qualidade das lideranças
que, já por si, pode ser ameaçada pelos processos seguidos.
Uma nota ainda sobre a forma como
se sentem considerados pelos sindicatos.
Se os sindicatos são
representativos dos professores, se os directores sentem que quase 70% dos
professores os reconhece e valoriza, se os próprios directores são professores, fica uma equação estranha, o apoio que os directores percebem vindo dos
sindicatos é residual.
Creio que estamos em presença de
mais um exemplo da conflitualidade na educação que não é um problema por
existir, longe disso, mas porque assenta, do meu ponto de vista em lógicas e agendas
que estão bem para lá da educação e da sua qualidade.
Nada de novo, a educação é uma
das áreas em que a conflitualidade decorrente da partidocracia instalada e da
gestão dos poderes, nacionais, regionais ou locais se torna mais intensa.
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