O Arlindo Ferreira e o Alexandre
Henriques, dos blogues Blog DeAr Lindo e ComRegras, em mais um
serviço público de educação realizaram um inquérito a que responderam 5135
professores sobre aspectos ligados aos concursos cujos resultados foram hoje divulgados.
Os que acompanham este espaço e
me conhecem sabem que não sou professor do ensino básico ou secundário e
provavelmente saberão que tenho uma trajectória de 40 anos, profissional e
académica, no universo da educação. Outros ficarão a saber.
Para alguns estarei inibido de
opinar sobre os professores e o seu trabalho, é com muita frequência que oiço,
leio, que o “não estar no terreno”, “não ter as mãos na massa”, ou outra
qualquer variante constitui um rótulo que retira qualquer autoridade para opinar.
No entanto, tenho para mim que “estar
no terreno” não confere a exclusividade da opinião e, só por si, também não é
sinónimo de sabedoria definitiva e inquestionável. No mesmo sentido, a
experiência, só por si, não é sinónimo de competência, em todas as profissões
existe gente nova muito competente e gente “velha” menos competente.
Nesta perspectiva e porque tantas
vezes tenho escrito que alguns dos problemas dos professores são também
problemas nossos e porque a idade nos dá algum atrevimento, deixo duas notas
breves sobre os resultados do inquérito hoje conhecidos.
Uma primeira nota remete para o
facto cerca de 95% dos docentes que responderam ao inquérito defendem que os
concursos devem ser nacionais, com critérios e gestão da responsabilidade do
ME.
É um resultado que me parece
curioso. Desculpar-me-ão mas creio que tal como ME desde há décadas os
professores não confiam nas escolas. Provavelmente por situações que todos conhecemos,
sim, eu também conheço, ultrapassagens incompreensíveis, enviesamento de
critérios, favorecimento, etc., etc. em recrutamento sediados na escola minaram
definitivamente a confiança da maioria dos professores nas direcções
escolares.
Percebe-se mas é um mau sintoma.
Este entendimento não colide com ideia de que a nível nacional se torna mais “simples”
estabelecer critérios e ordenar listas. Fica-me uma questão, será o
recrutamento de docentes uma linha vermelha da autonomia das escola?
A segunda nota remete para o facto
de que 78.9% dos docentes do quadro e 68.2% dos professores contratados
entendem que a “avaliação de desempenho não deve influenciar o a graduação
profissional".
Este resultado, que em termos
abstractos surpreende, talvez seja explica, mais uma vez, pela desconfiança que
os dispositivos de avaliação levantam desde há muito no nosso sistema
educativo. A avaliação de desempenho é em qualquer profissão uma ferramenta
importante de regulação e promoção da qualidade e, acrescento, de defesas dos
próprios profissionais e da sua identidade e profissão.
É verdade que nesta matéria a
confusão e a incompetência tem sido mais que muita, quem não se lembra do
inenarrável modelo chileno de Maria de Lourdes Rodrigues e das múltiplas
histórias que circulam sobre a burocracia e competência e das práticas dos
avaliadores.
No entanto, não me parece
impossível que se construa de forma participada e competente um modelo de
avaliação de desempenho, que, obviamente, deveria integrar critérios de
concursos.
Um renovado pedido de desculpas
pelas opiniões produzidas por quem não está “no terreno”, “na sala de aula” mas
que não se demite de pensar, certamente mal, sobre o seu universo profissional
e a sua paixão, a educação.
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