Não acompanho suficientemente de
perto a situação noutros países para ter uma perspectiva comparativa, mas
existe uma espécie de síndrome em Portugal que afecta a classe política com
experiência de poder. Esta síndrome, a que poderemos chamar "pós-ministério"
ou, dito de outra maneira, “sei muito bem o que deveria ser feito, mas quando
fui ministro esqueci-me”, é patente em muitíssimos ex-governantes oriundos dos
partidos que já assumiram responsabilidades de governo em diferentes áreas.
Vem esta introdução a propósito de
uma peça no DN em que a propósito do arranque do ano lectivo são ouvidos quatro
ex-ministros da educação, Couto dos Santos, David Justino, Maria de Lurdes Rodrigues e
Isabel Alçada oriundos do PSD e do PS, que identificam prioridades, recomendam
estratégias e orientações políticas que promovam sucesso e qualidade, o grande
desafio que enfrentamos.
O que me parece curioso nestas
circunstâncias é a apresentação de uma visão clara sobre os males e
constrangimentos da área sectorial em que exerceram funções políticas, no caso
a educação, bem como, propostas de desenvolvimento e correcção visando a
desejável qualidade e o progresso, depois de terem abandonado o poder nesse
mesmo sector.
A pergunta, certamente estúpida e
demasiado óbvia, que me ocorre face a este tipo de discursos é “então porque
não fez, porque não defendeu assertivamente as ideias agora expressas, muitas a
merecer concordância, quando teve poder para tal?” Podemos, com alguma
habilidade, tentar encontrar respostas. Acabaremos, creio por definir,
inevitavelmente, duas hipóteses básicas, não puderam ou não souberam, qual
delas a mais animadora.
Na primeira, não puderam, implica
questionar qual o poder que efectivamente o ministro detém relativamente às
políticas do sector que tutela, ou seja, qual o verdadeiro nível de
responsabilidade de quem assume o poder e as dificuldades para ultrapassar e
gerir as corporações de interesses ameaçadas pelas mudanças. Na segunda, não
souberam, sugere que a competência não abundará o que não me parece menos
inquietante.
Em todo o caso, algum pudor e a
humildade de nos explicarem porque não executaram as políticas que
posteriormente defendem, seriam esclarecedoras e um bom serviço prestado à
causa pública.
A questão é que muitos destes
discursos que se apresentam como parte da solução, na verdade, são, foram,
parte do problema.
Recordo a este propósito a
afirmação do filósofo holandês Rob Riemen, numa conferência em Portugal,
"A classe política dificilmente será capaz de resolver a crise. Ela é a
crise".
Sem comentários:
Enviar um comentário