Dados do European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs hoje conhecidos sugerem que 13% os jovens portugueses até
aos 16 anos consome antidepressivos e tranquilizantes. O estudo envolveu 96043
jovens de 35 países, 3456 portugueses alunos de escolas públicas. O valor é
impressionante, a média é de 8%.
Muitas vezes aqui tenho escrito
sobre a questão grave da saúde mental de crianças e adolescentes portugueses
que, do meu ponto de vista, tem sido uma área desvalorizada e um parente pobre
das políticas de saúde pública. Acontece que os indicadores disponíveis apontam para
maior número de casos e de crianças mais novas afectadas. Os dados agora
conhecidos apontam nesse sentido.
Um estudo divulgado em 2015 realizado
pela Faculdade de Psicologia e Educação da Universidade de Coimbra em
colaboração com entidades estrangeiras apontava para que 8% por cento dos
adolescentes portugueses que frequentam o 8.º e o 9 º ano apresentam
sintomatologia depressiva e 19% estarão em risco de desenvolver a doença. O estudo
contemplava também um programa de prevenção a promover em meio escolar, com a
participação dos pais, que pareceu indiciar bons resultados.
Em Maio de 2014, o Expresso
relatava que em 2013 se tinham registado cerca de 20 000 novas consultas de
pedopsiquiatria, mais 30% que em 2011. Era um indicador preocupante e ainda
mais preocupante pela inexistência de resposta adequada e acessível para muitas
crianças e adolescentes.
Recordo também que em 2014 foi
noticiada a interrupção dos apoios a crianças e adolescentes da região do
Algarve pois o programa de que beneficiavam, Grupos de Apoio à Saúde Mental
Infantil, que já tinha merecido prémios de boas práticas, foi suspenso em vez
de ser generalizado. Esta suspensão foi obviamente sentida com grande
inquietação por famílias e profissionais.
Em 2012 esteve em Portugal um
especialista nesta área, Peter Wilson, que, naturalmente, referia a necessidade
de que nas escolas e na comunidade próxima existam apoios aos professores, às
famílias e às crianças com dificuldades emocionais, a única forma, entende,
apoiado na sua experiência, de minimizar e ajudar neste tipo de problemas que,
não sendo acautelados, têm quase sempre efeitos devastadores em termos pessoais
e sociais. Segundo Peter Wilson, os estudos em Inglaterra sugerem a existência
de três crianças com problemas do foro emocional em cada sala de aula pelo que
o apoio é muito mais eficaz e económico prestado na escola ou na comunidade
próxima a alunos, famílias e professores. Este entendimento é partilhado,
creio, pela generalidade dos profissionais e famílias, também em Portugal e os
dados conhecidos apontam nesse sentido.
Há algum tempo a imprensa referia
a inexistência de camas nos serviços de pedopsiquiatria que possam acomodar
adolescentes em tratamento o que leva a que em muitas circunstâncias adolescentes
sejam internados em serviços de adultos o que na opinião dos especialistas pode
ser uma experiência "traumatizante" sendo, aliás, contrárias às boas
práticas de qualquer país civilizado em matéria de saúde mental.
Está nos livros e nas
experiências que em situação de crise os mais vulneráveis, crianças e
adolescentes, por exemplo, são, justamente, os mais sofredores com as
dificuldades. Acresce que, actualmente, se verifica em muitos agregados
familiares e em contextos escolares a emergência de discursos que pressionam os
mais novos no sentido de atingirem a excelência nos resultados escolares ou em
qualquer actividade “importante” pois será, dizem, a “única” forma de atingir
um patamar de sucesso futuro.
Como se sabe e a experiência
mostra, muitas crianças e adolescentes não suportam tranquilidade esta pressão
o que se repercute no seu bem-estar e na sua saúde mental. Para complicar um
pouco mais, ainda se verifica que algumas pessoas desvalorizam estes fenómenos,
entendendo que é preciso ser exigente e bem-sucedido e não entendendo o
sofrimento de algumas crianças e jovens.
Por outro lado é também conhecida
a enorme dificuldade que muitas instituições que acolhem menores estão a passar
dificultando a resposta com a qualidade bem como a possibilidade de responder a
novas situações.
Os miúdos, nas famílias
preferencialmente, ou nas instituições, necessitam de um aconchego, um ninho,
uma qualidade de vida que os cuidadores, por diversas razões, não sabem, não
querem, não podem ou não são capazes de providenciar. Tal cenário implica riscos
fortíssimos de compromisso do seu futuro pelo que os apoios e resposta são
fundamentais mas não podem passar apenas pela medicação.
Como o povo diz, é de pequenino
que se torce o … destino.
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