No Público faz-se referência ao
trabalho da Marktest, “Os portugueses e as redes sociais”, segundo o qual os utilizadores portugueses
das redes sociais, Facebook à cabeça, lhes dedicam 91 minutos diários. É obra, somos
mesmo um povo danado para o convívio.
Como utilizador deste universo,
por isso estão a ler-me, a aparente apetência dos portugueses pelas redes
sociais vem ao encontro da minha experiência, aliás, estimulante. Algumas
linhas de agradecimento pessoal e um pequeníssimo alerta.
Na verdade, é entusiasmante a
quantidade de pessoas que se me dirigem convidando-me para amigo e propondo-me
a integração numa rede social. De facto, numa época em que me refiro com
frequência ao isolamento em que muita gente parece estar, surpreende-me a
disponibilidade solidária com que tanta gente encara o risco de eu estar sem,
ou com poucos amigos.
A surpresa é tanto maior quando
verifico que um número significativo dos convites vem de pessoas que não tenho
ideia de conhecer de lado algum. E mais surpreendido fico com a generosidade
com que somos presenteados com toda a espécie de informação sobre a vida dos
nossos amigos num esforço notável para que nos sintamos próximos e por dentro,
às vezes parece que estamos mesmo ali a partilhar o jantar ou a viagem, a
conviver com a família. É bonito.
Já pensei que será gente que
assumiu uma espécie de missão em regime de voluntariado na qual se empenham em
oferecer amizade a eventuais necessitados. É bonito e cria uma ilusão de
esperança na humanidade, afinal as pessoas continuam a empenhar-se na relação
com o outro e a preocupar-se com a amizade, o lema é sempre ligados, sempre
amigos.
Por outro lado, uma das fórmulas
divulgadas "gostava de te adicionar como amigo" é particularmente
feliz, eu acho. A ideia de ir somando amigos, chegando a centenas ou, quem
sabe, a milhares, permite sonhos de popularidade e amizade nunca antes
imaginados. Estou completamente rendido.
Por favor, não desistam de enviar
a toda a gente, a mim também, as fantásticas mensagens que contêm os criativos
e solidários "gostava de te adicionar como amigo". Também aprecio
variantes como "tituxa enviou-te um Pedido de Amizade" ou até mesmo
algumas mais “aconchegantes” que começam com qualquer coisa como “Meu bem, me
chamo … e quero muito te conhecer”.
Um mundo assim, é um mundo
diferente.
Bem-haja pela atenção.
Já agora, talvez fosse bom
lembrar que esta atracção pelas redes sociais e pela promoção da amizade contém
riscos importantes para crianças e adolescentes, o cyberbullying ou o
isolamento, são apenas dois dos mais frequentes. É também razoavelmente claro
que a presença assídua nas redes sociais por parte de muitos adultos pode
esconder uma enorme solidão que se "mascara" relações sociais ...
virtuais.
Também é interessante recordar
que alguns estudos mostram o peso excessivo que estes comportamentos têm na
vida de muitas pessoas e famílias, inibindo a relação interpessoal e criando
constrangimentos à acção educativa. Curiosamente, crianças e adolescentes
referem justamente estes aspectos face ao comportamento dos seus pais, como
mostrou um estudo divulgado há pouco tempo nos EUA e que, aliás, aqui citei.
Na verdade e finalmente, em
algumas circunstâncias, as redes sociais são tudo menos ... sociais.
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