quarta-feira, 21 de setembro de 2016

AS REDES SOCIAIS. SOMOS DANADOS PARA O CONVÍVIO

No Público faz-se referência ao trabalho da Marktest, “Os portugueses e as redes sociais”,  segundo o qual os utilizadores portugueses das redes sociais, Facebook à cabeça,  lhes dedicam 91 minutos diários. É obra, somos mesmo um povo danado para o convívio.
Como utilizador deste universo, por isso estão a ler-me, a aparente apetência dos portugueses pelas redes sociais vem ao encontro da minha experiência, aliás, estimulante. Algumas linhas de agradecimento pessoal e um pequeníssimo alerta.
Na verdade, é entusiasmante a quantidade de pessoas que se me dirigem convidando-me para amigo e propondo-me a integração numa rede social. De facto, numa época em que me refiro com frequência ao isolamento em que muita gente parece estar, surpreende-me a disponibilidade solidária com que tanta gente encara o risco de eu estar sem, ou com poucos amigos.
A surpresa é tanto maior quando verifico que um número significativo dos convites vem de pessoas que não tenho ideia de conhecer de lado algum. E mais surpreendido fico com a generosidade com que somos presenteados com toda a espécie de informação sobre a vida dos nossos amigos num esforço notável para que nos sintamos próximos e por dentro, às vezes parece que estamos mesmo ali a partilhar o jantar ou a viagem, a conviver com a família. É bonito.
Já pensei que será gente que assumiu uma espécie de missão em regime de voluntariado na qual se empenham em oferecer amizade a eventuais necessitados. É bonito e cria uma ilusão de esperança na humanidade, afinal as pessoas continuam a empenhar-se na relação com o outro e a preocupar-se com a amizade, o lema é sempre ligados, sempre amigos.
Por outro lado, uma das fórmulas divulgadas "gostava de te adicionar como amigo" é particularmente feliz, eu acho. A ideia de ir somando amigos, chegando a centenas ou, quem sabe, a milhares, permite sonhos de popularidade e amizade nunca antes imaginados. Estou completamente rendido.
Por favor, não desistam de enviar a toda a gente, a mim também, as fantásticas mensagens que contêm os criativos e solidários "gostava de te adicionar como amigo". Também aprecio variantes como "tituxa enviou-te um Pedido de Amizade" ou até mesmo algumas mais “aconchegantes” que começam com qualquer coisa como “Meu bem, me chamo … e quero muito te conhecer”.
Um mundo assim, é um mundo diferente.
Bem-haja pela atenção.
Já agora, talvez fosse bom lembrar que esta atracção pelas redes sociais e pela promoção da amizade contém riscos importantes para crianças e adolescentes, o cyberbullying ou o isolamento, são apenas dois dos mais frequentes. É também razoavelmente claro que a presença assídua nas redes sociais por parte de muitos adultos pode esconder uma enorme solidão que se "mascara" relações sociais ... virtuais.
Também é interessante recordar que alguns estudos mostram o peso excessivo que estes comportamentos têm na vida de muitas pessoas e famílias, inibindo a relação interpessoal e criando constrangimentos à acção educativa. Curiosamente, crianças e adolescentes referem justamente estes aspectos face ao comportamento dos seus pais, como mostrou um estudo divulgado há pouco tempo nos EUA e que, aliás, aqui citei.
Na verdade e finalmente, em algumas circunstâncias, as redes sociais são tudo menos ... sociais.

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