domingo, 11 de setembro de 2016

O PROGRAMA DE TUTORIA

O Expresso de ontem traz um trabalho sobre o Programa de Tutoria a desenvolver durante o próximo ano lectivo e a apreciação de alguns professores e diretores escolares que concordando com a iniciativa questionam os recursos.
Como se sabe este Programa Tutorial é destinado a alunos do 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico que acumulem duas ou mais retenções durante o seu trajecto escolar.
As escolas designarão os professores tutores que receberão formação ao longo do ano, como sempre em qualquer iniciativa, e terão a seu cargo 10 alunos e 4 horas semanais, repito, quatro horas semanais para este trabalho. Aqui, de facto, começam as dúvidas.
Como disse na altura em que foi anunciado, o programa tutorial parece-me um dispositivo muito interessante e que vem na continuação, é bom lembrá-lo, de várias experiências e práticas desta natureza que muitas escolas e agrupamentos desenvolvem com resultados positivos mas com dificuldades em matéria de recurso ou com a utilização de meios exteriores à escola como é o caso da intervenção da Associação EPIS.
Esta terá a vantagem de ser desenvolvida pela equipa da escola e não por recursos exteriores ao sistema educativo e, como tal, inexistentes em todas as escolas.
No entanto, como também disse, parece claro que as quatro horas semanais com 10 alunos para um programa de tutoria com o perfil de intervenção definido e que julgo adequado, dificilmente poderão promover resultados significativos.
Vejamos as funções atribuídas.
a) Reunir nas horas atribuídas com os alunos que acompanha;
b) Acompanhar e apoiar o processo educativo de cada aluno do grupo tutorial;
c) Facilitar a integração do aluno na turma e na escola;
d) Apoiar o aluno no processo de aprendizagem, nomeadamente na criação de hábitos de estudo e de rotinas de trabalho;
e) Proporcionar ao aluno uma orientação educativa adequada a nível pessoal, escolar e profissional, de acordo com as aptidões, necessidades e interesses que manifeste;
f) Promover um ambiente de aprendizagem que permita o desenvolvimento de competências pessoais e sociais;
g) Envolver a família no processo educativo do aluno;
h) Reunir com os docentes do conselho de turma para analisar as dificuldades e os planos de trabalho destes alunos
Quem conhece a realidade das escolas e as problemáticas complexas dos alunos em insucesso, com desmotivação, desregulação de comportamento, ausência de projecto de vida, falta de enquadramento e suporte familiar, lacunas graves nos conhecimentos escolares de anos anteriores, etc., quase sempre presentes e só para referir dimensões relativas aos alunos, percebe a dificuldade de reverter, para usar um termo em voga, o seu trajecto escolar.
À luz do que me parece ser um trajecto de defesa da efectiva autonomia das escolas, preferia que, dando o ME orientação e a possibilidade de gerir e alocar recursos a estes programas, que fossem as escolas a organizar os seus programas de tutoria, definindo destinatários, professores e técnicos envolvidos, tempos de realização e objectivos a atingir.
Caberia, evidentemente, às escolas e ao ME a regulação e acompanhamento dos programas e a sua avaliação.
Na sexta-feira o Ministro da Educação, ao referir a intenção de diminuir o número de alunos por turma, falava de “constrangimentos” na sua prática.
Como comentei e agora a propósito de “constrangimentos” que determinem um professor para 10 alunos em quatro horas semanais, embora compreenda o “argumento” entendo que a qualidade e o sucesso em educação extensíveis a todos os alunos não representam despesa,
De resto e como sempre … teremos opções políticas na definição de prioridades, os recursos são sempre finitos.

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