O Expresso de ontem traz um
trabalho sobre o Programa de Tutoria a desenvolver durante o próximo ano
lectivo e a apreciação de alguns professores e diretores escolares que concordando com a iniciativa questionam os recursos.
Como se sabe este Programa
Tutorial é destinado a alunos do 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico que acumulem
duas ou mais retenções durante o seu trajecto escolar.
As escolas designarão os
professores tutores que receberão formação ao longo do ano, como sempre em qualquer iniciativa, e terão a seu cargo 10 alunos e 4 horas semanais,
repito, quatro horas semanais para este trabalho. Aqui, de facto, começam as dúvidas.
Como disse na altura em que foi
anunciado, o programa tutorial parece-me um dispositivo muito interessante e
que vem na continuação, é bom lembrá-lo, de várias experiências e práticas desta
natureza que muitas escolas e agrupamentos desenvolvem com resultados positivos
mas com dificuldades em matéria de recurso ou com a utilização de meios
exteriores à escola como é o caso da intervenção da Associação EPIS.
Esta terá a vantagem de ser
desenvolvida pela equipa da escola e não por recursos exteriores ao sistema
educativo e, como tal, inexistentes em todas as escolas.
No entanto, como também disse, parece
claro que as quatro horas semanais com 10 alunos para um programa de tutoria
com o perfil de intervenção definido e que julgo adequado, dificilmente poderão promover resultados significativos.
Vejamos as funções atribuídas.
a) Reunir nas horas atribuídas com os alunos que acompanha;
b) Acompanhar e apoiar o processo educativo de cada aluno do grupo
tutorial;
c) Facilitar a integração do aluno na turma e na escola;
d) Apoiar o aluno no processo de aprendizagem, nomeadamente na criação
de hábitos de estudo e de rotinas de trabalho;
e) Proporcionar ao aluno uma orientação educativa adequada a nível
pessoal, escolar e profissional, de acordo com as aptidões, necessidades e
interesses que manifeste;
f) Promover um ambiente de aprendizagem que permita o desenvolvimento
de competências pessoais e sociais;
g) Envolver a família no processo educativo do aluno;
h) Reunir com os docentes do conselho de turma para analisar as
dificuldades e os planos de trabalho destes alunos
Quem conhece a realidade das
escolas e as problemáticas complexas dos alunos em insucesso, com desmotivação,
desregulação de comportamento, ausência de projecto de vida, falta de
enquadramento e suporte familiar, lacunas graves nos conhecimentos escolares de
anos anteriores, etc., quase sempre presentes e só para referir dimensões
relativas aos alunos, percebe a dificuldade de reverter, para usar um termo em
voga, o seu trajecto escolar.
À luz do que me parece ser um
trajecto de defesa da efectiva autonomia das escolas, preferia que, dando o ME
orientação e a possibilidade de gerir e alocar recursos a estes programas, que
fossem as escolas a organizar os seus programas de tutoria, definindo
destinatários, professores e técnicos envolvidos, tempos de realização e
objectivos a atingir.
Caberia, evidentemente, às
escolas e ao ME a regulação e acompanhamento dos programas e a sua avaliação.
Na sexta-feira o Ministro da
Educação, ao referir a intenção de diminuir o número de alunos por turma,
falava de “constrangimentos” na sua prática.
Como comentei e agora a propósito
de “constrangimentos” que determinem um professor para 10 alunos em quatro
horas semanais, embora compreenda o “argumento” entendo que a qualidade e o
sucesso em educação extensíveis a todos os alunos não representam despesa,
De resto e como sempre … teremos
opções políticas na definição de prioridades, os recursos são sempre finitos.
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