Conforme se antecipava pela
subida do número de candidaturas, 2.8% relativamente ao ano anterior, o número de alunos que irá frequentar o ensino superior no próximo ano irá subir.
Trata-se de uma boa notícia.
Cerca de 84% dos alunos ficaram
colocados numa das três primeiras opções sendo que 51% na primeira.
No entanto, importa ainda
registar que só 60% dos alunos continuam a estudar. Concluíram o secundário no ano
anterior 62 923 e 25 570 não continuam os estudos. Existirão cerca de 200 000
jovens entre 25 e os 30 anos que não se inscreveram no ensino superior. Temos
que contrariar este cenário, a qualificação é um bem de primeira necessidade embora caro.
Ao que os dados mostram e apesar
de algumas mudanças pouco significativas, parece continuar a verificar-se algum
enviesamento na oferta de toda a rede de ensino superior, pública e privada que
se traduz na sobrevalorização de escolhas ou na existência de muitos cursos sem
procura
Já aqui afirmei muitas vezes a
necessidade imperiosa de regulação na oferta do ensino superior, um universo
fortemente enviesado com uma oferta sobredimensionada e com distorções
fortíssimas ao nível da qualidade, da assimetria da rede e das implicações na
empregabilidade.
O problema é que o ensino
superior em Portugal é, como muitíssimas outras áreas, vítima de equívocos e de
decisões políticas nem sempre claras. Uma das grandes dificuldades que enfrenta
prende-se com a demissão durante muito tempo de uma função reguladora da tutela
que, sem ferir a autonomia universitária, deveria ter impedido o completo
enviesamento da oferta, pública e privada, que se verifica. Existem cursos que
apesar de alguma menor empregabilidade se inscrevem em áreas científicas de que
não podemos prescindir com o fundamento exclusivo no mercado de emprego.
Podemos dar como exemplo formações na área da filosofia ou nichos de
investigação que são imprescindíveis num tecido universitário moderno.
Será também importante que se
insiste e aprofundem modelos de cooperação, universitário e politécnico,
público e privado, que potencie sinergias, investimentos e massa crítica.
Voltando à boa notícia da subida
do número de alunos, alguns especialistas entendem que a subida se deverá a
maior sucesso no ensino secundário, a melhoria na condição económica de algumas
famílias e ao aumento de confiança na formação superior.
Na verdade e contrariamente ao
muitas vezes se entende Portugal, as famílias portuguesas enfrentam um dos mais
caros sistemas de ensino superior da UE e da OCDE.
Por outro lado, tem vindo a
instalar-se a perigosa e falsa ideia de que "somos um país de
doutores". De facto temos uma das mais baixas taxas de pessoas com
formação superior entre os países da OCDE e somos também um dos países em que
considerando o estatuto salarial médio mais compensa adquirir formação de nível
superior.
Aliás, não cumpriremos certamente
o objectivo de formação superior estabelecido na UE para 2020 mesmo com a ajuda
da "meia licenciatura" recentemente criada.
Neste quadro, saber que está a
aumentar o número de estudantes que vai frequentar o ensino superior é mesmo
uma boa notícia apesar do caminho que ainda falta percorrer.
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