domingo, 11 de setembro de 2016

MAIS ALUNOS NO ENSINO SUPERIOR

Conforme se antecipava pela subida do número de candidaturas, 2.8% relativamente ao ano anterior, o número de alunos que irá frequentar o ensino superior no próximo ano irá subir. Trata-se de uma boa notícia.
Cerca de 84% dos alunos ficaram colocados numa das três primeiras opções sendo que 51% na primeira.
No entanto, importa ainda registar que só 60% dos alunos continuam a estudar. Concluíram o secundário no ano anterior 62 923 e 25 570 não continuam os estudos. Existirão cerca de 200 000 jovens entre 25 e os 30 anos que não se inscreveram no ensino superior. Temos que contrariar este cenário, a qualificação é um bem de primeira necessidade embora caro.
Ao que os dados mostram e apesar de algumas mudanças pouco significativas, parece continuar a verificar-se algum enviesamento na oferta de toda a rede de ensino superior, pública e privada que se traduz na sobrevalorização de escolhas ou na existência de muitos cursos sem procura
Já aqui afirmei muitas vezes a necessidade imperiosa de regulação na oferta do ensino superior, um universo fortemente enviesado com uma oferta sobredimensionada e com distorções fortíssimas ao nível da qualidade, da assimetria da rede e das implicações na empregabilidade.
O problema é que o ensino superior em Portugal é, como muitíssimas outras áreas, vítima de equívocos e de decisões políticas nem sempre claras. Uma das grandes dificuldades que enfrenta prende-se com a demissão durante muito tempo de uma função reguladora da tutela que, sem ferir a autonomia universitária, deveria ter impedido o completo enviesamento da oferta, pública e privada, que se verifica. Existem cursos que apesar de alguma menor empregabilidade se inscrevem em áreas científicas de que não podemos prescindir com o fundamento exclusivo no mercado de emprego. Podemos dar como exemplo formações na área da filosofia ou nichos de investigação que são imprescindíveis num tecido universitário moderno.
Será também importante que se insiste e aprofundem modelos de cooperação, universitário e politécnico, público e privado, que potencie sinergias, investimentos e massa crítica.
Voltando à boa notícia da subida do número de alunos, alguns especialistas entendem que a subida se deverá a maior sucesso no ensino secundário, a melhoria na condição económica de algumas famílias e ao aumento de confiança na formação superior.
Na verdade e contrariamente ao muitas vezes se entende Portugal, as famílias portuguesas enfrentam um dos mais caros sistemas de ensino superior da UE e da OCDE.
Por outro lado, tem vindo a instalar-se a perigosa e falsa ideia de que "somos um país de doutores". De facto temos uma das mais baixas taxas de pessoas com formação superior entre os países da OCDE e somos também um dos países em que considerando o estatuto salarial médio mais compensa adquirir formação de nível superior.
Aliás, não cumpriremos certamente o objectivo de formação superior estabelecido na UE para 2020 mesmo com a ajuda da "meia licenciatura" recentemente criada.
Neste quadro, saber que está a aumentar o número de estudantes que vai frequentar o ensino superior é mesmo uma boa notícia apesar do caminho que ainda falta percorrer.

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