O Alexandre Henriques, do blogue
ComRegras, desenvolveu mais um interessante trabalho em que recebeu a
colaboração de 131 directores de escola e agrupamentos e 131 presidentes de
Conselhos Gerais num inquérito relativo ao movimento de municipalização da educação
e sobre a competência na contratação de professores. Apesar dos dados completos
apenas serem divulgados na terça-feira no ComRegras já são conhecidos alguns
indicadores.
No que respeita à contratação de
docentes, existem duas posições claras e equilibradas, 50,3% dos directores defende
que deve ser realizada pelo ME e 49,7% entende que devem ser as escolas. Este
cenário mostra o caminho que é preciso percorrer antes de um entendimento
global sobre a questão.
Quanto ao processo de municipalização existe uma opinião predominante, 89,0% dos directores escolares não concorda com o
actual processo de municipalização escolar e 86,3% dos presidentes de Conselhos Gerais também não.
O movimento de municipalização
está em marcha, conforme constava do Programa do PS e do Governo. Ao que
afirmou há algum tempo o presidente Associação Nacional de Municípios
Portugueses (ANMP), Manuel Machado, as novas competências dos municípios na
área da educação deverão abranger toda a escolaridade obrigatória e "só
deverão entrar em funcionamento em 2018 e o financiamento deverá ser assegurado
pela criação de um fundo destinado globalmente à educação".
Como é reconhecido a
municipalização da educação é uma matéria controversa.
Para além desta posição de
directores e presidentes de Conselhos Gerais recordo uma consulta promovida em
2015 pela Plataforma Sindical de Professores em que de cerca de 50 mil
professores que participaram numa consulta sobre a "municipalização da
Educação", à volta de 43 mil manifestaram-se contra o processo.
A posição dos professores e
directores face ao modelo que tem sido anunciado de “municipalização” que
possibilitará que serviços, actividades e/ou projectos, nomeadamente de
administração escolar, papelaria, refeitório, biblioteca, bem como serviços de
apoio educativo, incluindo psicologia ou desporto escolar, possam ser subcontratados
a operadores privados.
O Conselho de Escolas e as
associações de directores bem como os professores temem a diminuição da
autonomia das escolas apesar da retórica da tutela.
Seria desejável uma avaliação
séria e externa das experiências em desenvolvimento.
Por outro lado, insisto na
necessidade de se considerarem com atenção os resultados de experiências de
"municipalização" realizadas noutros países cujos
resultados estão longe de ser convincentes. A Suécia, por exemplo, está assistir-se
justamente a um movimento de "recentralização" considerando os
resultados, maus, obtidos com a experiência de municipalização.
Por outro lado, o que se vai
passando no sistema educativo português no que respeita ao envolvimento das
autarquias nas escolas e agrupamentos, designadamente em matérias como as
direcções escolares, os Conselhos gerais ou a colocação de funcionários e
docentes (nas AECs, por exemplo) dá para ilustrar variadíssimos exemplos de
caciquismo, tentativas de controlo político, amiguismo face a interesses
locais, etc. O controlo das escolas é uma enorme tentação. Podemos ainda
recordar as práticas de muitas autarquias na contratação de pessoal,
valorizando as fidelidades ajustadas e a gestão dos interesses do poder.
Assim sendo, talvez seja mesmo
recomendável alguma prudência embora, confesse, não acredite pois não se trata
de imprudência, trata-se de uma visão, de uma agenda.
Ainda nesta matéria e dados os
recursos económicos que se anunciam através das verbas comunitárias para além
dos dinheiros públicos, parece clara a intenção política de aumentar o
"outsourcing", a intervenção de entidades e estruturas privadas que
já existem nas escolas, muitas vezes com resultados pouco positivos, caso de
apoios educativos a alunos com necessidades educativas especiais e do recurso a
empresas de prestação de serviços, (de novo o exemplo das AECs).
Está expressa nos Projectos de
contrato em funcionamento a intenção de contratar a privados a prestação destes
serviços nas escolas, incluindo no universo da inclusão, um modelo ineficaz
pois a intervenção de qualidade e adequada dos técnicos, designadamente de
educação ou psicólogos, depende, evidentemente, da sua pertença às equipas das
escolas e não é compatível com a prestação de serviços por técnicos de fora em
regime de "consulta".
Um modelo deste tipo, estruturas
e entidades privadas a intervir em escolas públicas, só é garantidamente bom para
as entidades a contratar, não, muito provavelmente, para alunos, professores e
escolas. Temo que “municipalização” possa ser um incremento e apoio a um nicho
de mercado.
Finalmente, uma referência ao
equívoco habitual entre autonomia das escolas e municipalização. De acordo com
o modelo em desenvolvimento, esperemos para ver mais claramente o que o ME
proporá, e conforme os directores têm referido recorrentemente a autonomia da
escola não sai reforçada, antes pelo contrário, passa para as autarquias por delegação
de competências do ME. O imprescindível reforço da autonomia das escolas e
agrupamentos não depende da municipalização como muitas vezes se pretende fazer
crer.
Mais uma vez, confundir autonomia
das escolas com municipalização é criar um equívoco perigoso e, frequentemente,
não passa de uma cortina de fumo para mascarar os caminhos dos negócios da
educação.
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