Neste tempo de recomeço e olhando
à volta dei por mim a pensar na Mafalda e no Mestre Almada Negreiros.
Pode parecer-vos estranha esta
associação da Mafalda, a personagem criada por Quino, com o Mestre Almada
Negreiros, um dos, entre vários outros, mal-amados da cultura portuguesa. A ver
se consigo explicar esta bizarra aproximação.
Primeiro, recordar uma cena em
que a Mafalda, ao ver o ar pensativo do irmão Gui, o questionou sobre o que o
fazia pensar. O Gui respondeu que andava desconfiado de que o professor dele,
quando fazia perguntas aos alunos, já sabia a resposta, comportamento que lhe
parecia um bocado esquisito.
Por outro lado, na Invenção do
Dia Claro, Almada Negreiros dizia, "Nós não somos do século de inventar
palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar
outra vez as palavras que já foram inventadas”.
Estes dois enunciados
ocorreram-me ao olhar para como mundo está a correr à nossa volta. Tudo o que
está a acontecer parece resultar das respostas velhas a perguntas, também elas
já velhas, porque assentes em fórmulas velhas e que nos conduziram ao que
estamos a assistir. Não vale a pena como dizia o Gui, fazer perguntas de que já
sabemos as respostas, vão alimentar o que já temos, sem mudança.
Creio que a questão essencial nos
nossos dias, nestes tempos de inquietação, se coloca nos termos utilizados pelo
Mestre Almada. Temos as palavras, não precisamos de outras palavras. Temos de
utilizá-las para fazer novas perguntas, para encontrar novas respostas. Se
ficarmos à espera, os donos do mundo continuarão apenas a fazer as perguntas de
que eles já sabem a resposta. E nós também.
Basta olhar à volta.
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