A imprensa de hoje dá bastante
relevo à divulgação dos resultados de um trabalho coordenado por Joaquim de Azevedo
desenvolvido pela Fundação Manuel Leão, “As preocupações e as motivações dos
professores”.
Ao inquérito realizado
responderam 2910 docentes e a percepção que têm sobre os seus problemas, as
dificuldades, a falta de reconhecimento e valorização, a desmotivação traçam um
quadro que deveria deixar em alerta vermelho a população e as lideranças de um
país que esteja verdadeiramente preocupado com o futuro. Na verdade, boa
parte do nosso futuro passa pelo trabalho dos professores com os nossos filhos
e netos.
Não vou aqui reproduzir os dados,
são múltiplos e estão acessíveis, mas importa registar que estamos todos
envolvidos nesta situação de mal-estar, alunos, famílias, lideranças políticas,
comunicação social, etc. pelo que, como sempre digo, muitos dos problemas dos
professores são também problemas nossos.
Na verdade, os dados só podem
surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa
parte dos opinadores que pululam pela comunicação social perorando sobre
educação e sobre os professores. Já aqui tenho referido que os ataques,
intencionais ou não, à imagem dos professores, incluindo parte do discurso de
responsáveis da tutela ou de representantes dos professores que evidentemente,
têm responsabilidades acrescidas e também o discurso desses opinadores
profissionais, mais ou menos ignorantes, produzem sobre os professores e a
escola, contribuíram para alterações significativas da imagem social dos
professores, fragilizando-a seriamente aos olhos de muitos alunos e pais.
Aliás, uma rápida passagem de
olhos pela caixa de comentários às várias referências na imprensa online a esta
matéria para se perceber e entender melhor a razão dos resultados.
Este quadro é profundamente inquietante,
uma população docente envelhecida e a revelar preocupantes sinais de desgaste.
Importa inda considerar o impacto
da deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas
décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo,
um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que
sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um empenhado processo de
desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das escolas e nas
relações que a comunidade estabelece com estes profissionais
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo
emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada
vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida,
cansada que se sente desvalorizada, pouco apoiada que muitas vezes pergunta
"Quanto tempo é que te falta?"
Na verdade, ser professor é uma
das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é
seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito e apoio deveria merecer.
Do seu trabalho depende o nosso futuro, tudo passa pela educação e pela escola.
Os sistemas educativos com
melhores resultados são, justamente, os sistemas em que os professores são mais
valorizados, apoiados e reconhecidos.
Não possível olhar para o cenário
hoje divulgado sem um profundo sobressalto de preocupação.
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