Em Portugal, durante 2013 voltou a verificar-se um
abaixamento significativo do número de nascimentos acentuando o
inverno demográfico em que vivemos. Acresce que boa parte das
crianças nascidas actualmente ficarão filhos únicos. Em Portugal existe uma das
mais altas taxas de filhos únicos no espaço europeu.
Em artigo no Público acordam-se
estas questões designadamente a situação
de "filho único". Algumas notas breves.
Como já tenho referido em Portugal
ter filhos é muito caro Segundo alguns estudos recentes indiciam que as
mulheres portuguesas são de entre as europeias as que mais valorizam a carreira
profissional e a família. Também é sabido de outros estudos que as mulheres
portuguesas são das que mais tempo trabalham fora de casa, aliás, são também
das que mais tempo trabalham em casa.
Como parece claro, este cenário,
menos filhos quando se desejava fortemente compatibilizar maternidade e
carreira, exige, já o tenho referido, a urgência do repensar das políticas de
apoio à família. Os salários baixos ou o desemprego, sobretudo jovem, são
algumas das razões que “obrigam” a que as famílias revejam em baixa, como
agora se diz, os projectos relativos a filhos. Por outro lado, Portugal tem um
dos mais elevados custos de equipamentos e serviços para crianças o que,
naturalmente, é mais um obstáculo para projectos de vida que envolvam filhos.
Toda esta situação torna urgente
a definição de políticas de apoio à família com impactos a curto e médio prazo
como, por exemplo, a acessibilidade aos equipamentos e serviços para a infância
com o alargamento da resposta pública de creche e educação pré-escolar, cuja
oferta está abaixo da meta estabelecida bem como combater a discriminação
salarial e de condições de trabalho através de qualificação e fiscalização
adequadas.
Seria ainda importante, à
semelhança do que se passa noutros países, a introdução de ajustamentos na
organização social do trabalho, nos horários, por exemplo, que tornassem
mais amigáveis e compatíveis para famílias com filhos os desempenhos
profissionais. Os custos destas medidas seriam certamente compensados em
várias dimensões.
Só com uma abordagem global e
multi-direccionada me parece possível promover a recuperação demográfica
indispensável.
No que respeita à situação de filho
único que com muita frequência é percepcionada como algo com consequências
negativas para o desenvolvimento da criança produzindo adultos dependentes,
"egoistas", etc. importa, do meu ponto de vista, ser cauteloso nestas
abordagens. Nenhuma criança que seja filho único está "condenada" a
ser uma criança mal educada e um adulto com dificuldades de adaptação,
incompetente do ponto de vista social, etc. , não se podem estabelecer relações
ligeiras de causa efeito. Podemos correr o risco da culpabilização dos pais de
filhos únicos e aumentar a sua ansiedade ou a sua confiança nas capacidades
parentais.
Na verdade e como afirma Mário
Cordeiro no Público, os estilos educativos adequados e a boa qualidade do trabalho
parental ajudarão os filhos únicos a crescerem de forma tranquila e sem
sobressaltos. Os filhos únicos não têm que fatalmente ser superprotegidos e mal educados. Mais uma vez depende da forma como os pais
encarem a educação e dos apoios e serviços a que podem aceder, não da sua condição de filhos únicos.
Precisamos é de serviços de
qualidade para infância, acessíveis e suficientes, apoios e orientação às
famílias.
Estas condições, para além de
minimizar os riscos da "síndrome do filho único", poderia atenuar a
baixa brutal nos nascimentos.
2 comentários:
Boa tarde, o problema na minha optica é essencialmente ao nível da legislação laboral;(Não sou membro do governo).
Uma mulher vai a uma entrevista de trabalho e uma das perguntas é se tem filhos, ou esta a pensar vir a ter filhos, ou o caso da mulher que assim que a gravidez começa a notar-se é automaticamente despedida.
Por ultimo, uma vez ouvi num centro de emprego que no interior uma grande multinacional estava a contratar, várias pessoas, mas as grávidas ficaram excluidas das entrevistas.
Isto sem falar dos reduzidos ou quase nenhuns apoios à familia , como o corte do abono.
Pensar a longo prazo (e fora do domínio estritamente numérico) é algo que não está dentro das capacidades de quem nos governa.
Como tal, é muito provável que a natalidade continue a diminuir, assim como os apoios sociais que teriam como função aumentá-la; um pouco como a Saúde em geral, neste País.
Impera a seguinte barbaridade: se não tem efeito imediato no défice, então não vale a pena.
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