Quando atentamos nos discursos anónimos dirigidos às dificuldades que enfrentamos parece emergir algum conformismo que pode ser sinónimo de desesperança ou resignação No entanto, algumas vozes alertam para a possibilidade de que este aparente conformismo se altere de forma turbulenta e com consequências imprevisíveis.
Esta atitude paciente recordou-me alguns episódios da minha infância que ainda agora me causam alguma perplexidade.
Na zona onde na altura habitava, era relativamente frequente que pessoas nos batessem à porta para, numa humilhante circunstância, pedir esmola, o mais degradante dos pedidos.
Nessa altura, sem a actual paranóia securitária que os tempos actuais determinam, ainda eram as crianças que acudiam a ver quem era. Eu assim fazia. E depois de verificar que era “um pobrezinho” (o tal tranquilizante diminutivo a que já uma vez me referi aqui no Atenta Inquietude) avisava a minha mãe. Sem eu nunca conseguir entender com que critérios, ela decidia dar ou não dar esmola, em dinheiro ou géneros. Mas a minha grande perplexidade, que se mantém até hoje, tem a ver com o facto de que, quando decidia não ser caridosa, a minha mãe mandava-me de volta para dizer ao pobrezinho “tenha paciência”. Devo dizer que ainda hoje esta memória me deixa embaraçado. Então o homem, ou mulher, não tem que comer, não tem trabalho, não leva ajuda ou apoio e ainda tem que ter paciência. É extraordinário como até como caridade se oferecia conformismo.
Será que é possível esperar que as pessoas a quem roubaram a dignidade, cuja vida se transformou numa luta diária pela sobrevivência e com um horizonte centrado no amanhã, manterão a paciência que, no fundo, os outros, nós, esperamos que mantenham?
A bem da tranquilidade, é claro.
1 comentário:
De 1139 até 1910 tivemos dinastias parasitas... e o povo a mendigar.
De 1910 até 1974 fomos assolados por repúblicas sugadoras e gastadoras da riqueza que o povo produzia... e o povo a mendigar.
A seguir vieram os BOYS, compadres, amigos, ministros, secretários de estado,familiares desta gente toda rapando os tachos que há para rapar... e o povo a mendigar.
Somos mendigos de origem e o mais grave é que não o reconhecemos e fazemos grandes figuras de gente abastada e BEM GOVERNADA.
No nosso ADN temos MOLÉCULAS de PACIÊNCIA para aturar estes políticos finórios e velhacos (peço perdão pelo desvario).
Sem ter chicote nem vara
Manda-me a minha razão
Atirar versos à cara
Dos que me roubam o pão
Rouba muito que, de resto,
Terás um bom advogado
Que prova que és mais honesto
Que propriamente o roubado
Quando a noção do dever
Nos der ampla liberdade,
Acabará por esquecer
A palavra "caridade"
A fome,a dor, a tristeza
São por nossa infelicidade
O preço por que a pobreza
Paga a sua honestidade.
Do poeta do sofrimento e da pobreza
António Aleixo
saudações
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