É um lugar comum afirmar que a realidade ultrapassa a ficção mas sempre aparecerá alguma circunstância que nos faz recordar isso mesmo. O I relata num oportuno trabalho a situação de delinquência terrorista que se passa, pelos vistos frequentemente, na zona do Vale do Cávado, uma região flagelada pelo drama do desemprego.
Aproveitando-se do quadro legal exigir aos desempregados a receber subsídio que façam prova de que procuram emprego, muitas empresas cobram dinheiro, 5 €, para colocarem um carimbo num papel que prove que a pessoa ali esteve a procurar trabalho. Mas como a criatividade e ausência de escrúpulos é imensa, em várias situações é proposto ao trabalhador que trabalhe alguns dias "à experiência" sem remuneração e recebendo apenas o comprovativo de que procurou trabalho. De acordo com a informação recolhida, sob anonimato por medo de represálias, esta situação é frequente e muitas pessoas vêem-se na contingência de aceitar tal situação.
Muitas vezes aqui tenho afirmado que o desemprego me parece constituir uma das piores, senão a pior, ameaça à dignidade de alguém, roubar o trabalho é roubar a dignidade.
Tenho uma tremenda dificuldade em entender como é possível que um indivíduo ainda consiga montar um qualquer dispositivo de exploração a alguém que já está despojado do seu maior bem, a dignidade. É uma indignidade.
Gostava de acreditar no contrário mas temo que tendo-se verificado a denúncia destas práticas terroristas nada aconteça aos seus responsáveis como é, aliás, habitual no país da impunidade. Vergonha.
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