Na linguagem corrente uma pessoa desconfiada é uma pessoa que não tem confiança, assim como uma pessoa desarmada é alguém que não tem arma ou ainda um desocupado será alguém que não tem ocupação.
Assim sendo, um desesperado será alguém que não tem espera, porque nunca a teve, porque a perdeu ou porque lha tiraram. Em qualquer dos casos a situação inquieta.
Há gente, sabemo-lo, que nasce sem poder esperar, ou quase. Cumprem o seu destino igual ao dos seus pais. Basicamente limitam-se a aceitar que alguém se lembre deles, no fundo é essa a sua espera. Muitos destes são transparentes, não se vêem, e, por isso, quase ninguém se lembra deles.
Outro grupo de desesperados, gente que não tem a espera, é constituído pelos que a perderam. Actualmente e como exemplo, existem muitas pessoas que com o trabalho que lhe tiraram levaram agarrada a espera. É gente que já teve espera, chamava-se esperança, em algum tempo da sua vida e que vê essa espera, esperança, fugir, perdida.
Finalmente o grupo a quem roubaram a espera. É um grupo que engrossa vítima de uma desregulação de valores em que a pessoa é um número e não uma pessoa e a quem retiram a possibilidade de aceder as direitos básicos da dignidade e do afecto.
Os desesperados, as pessoas sem espera, velhos e novos, homens e mulheres, podem um dia decidir reclamar a espera, a esperança, que não têm. Serão dias duros.
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