Nesta noite cabaneira aqui no meu Alentejo, como cidadão que se quer informar, assistia ao jornal televisivo da RTP1. Inevitavelmente, parte substantiva do tempo foi ocupado com a tragédia da Madeira. Entre as várias peças uma, previamente anunciada, fixou a minha atenção. A jornalista Rita Marrafa de Carvalho foi à Escola Básica do Livramento saber como se estava a processar o regresso à escola dos meninos face à perda trágica de alguns colegas. E foi assim.
A jornalista entrevistou a professora Luzia (presumo que educadora pois tratava-se de uma sala de jardim de infância) na sala com um grupo de meninos sentados no chão a ouvir. Seguiu-se uma animada conversa onde a senhora educadora explicava os sentimentos e os problemas que as crianças sentiriam, mostrava os desenhos que fizeram e explicava o significado de cada desenho e a forma como estavam a viver estes dias, enquanto aquelas almas estavam sentadinhas no chão a ouvir todas as explicações da senhora educadora.
De vez em quando aparecia um plano dos rostos dos miúdos que estavam, naturalmente, com cara de “tirem-me daqui” enquanto a jornalista procurava aprofundar e explicitar as interpretações da senhora educadora sobre a dor das crianças.
Eu acho que elas, as crianças, não mereciam isto. A sua dor, não sendo exactamente aquilo que a senhora educadora e a jornalista traduzem, justificava, no mínimo, um respeito e um pudor suficientes para que aquela peça não tivesse sido feita, assim.
Mas parece que vale tudo, pobres crianças.
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