terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

QUERER

Todos os dias as dramáticas condições em que muitas pessoas (sobre)vivem nos fazem acreditar em milagres. De facto, parece altamente improvável que se possam suportar situações que afligem muita gente miúda, mais crescida ou mais envelhecida e continuar vivos. Aliás, não é raro de um de nós, mais privilegiados, ouvir qualquer coisa como “eu não aguentava” face a um relato de sofrimento.
Esta introdução vem a propósito de ainda ter sido encontrado um sobrevivente no meio dos destroços do Haiti perto de um mês depois da catástrofe conforme notícia no Público. Esta sobrevivência desafia os limiares e as probabilidades de resistência humana. E é esta resistência cujos limites sempre nos surpreendem que, simultaneamente, nos indiciam a infinita dimensão do querer. Do querer viver, por exemplo.
Nas áreas em que me movo tenho tido acesso e ou conhecimento de situações absolutamente devastadoras presentes na vida de algumas crianças e jovens que, contra tudo o que seria de esperar e apesar da imensidão do sofrimento, sobreviveram e são. São pessoas, são sobreviventes, porque quiseram ser, pessoas.
São as pessoas assim, tão grandes, que me fazem sentir pequeno. Eu não aguentava.

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