Começam a ser conhecidos os
resultados do estudo realizado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova em parceria com a Fenprof sobre as condições pessoais dos
professores considerando dimensões relativas ao “desgaste emocional, “burnout”
incluído”, e sobre as condições em que estes trabalham - se há cansaço,
desânimo, desmotivação ou, pelo contrário, alegria.”
Responderam perto de 16000
docentes e os resultados são inquietantes. Quase metade dos docentes que
responderam revela sinais preocupantes de “exaustão emocional”, (20,6% mostram
sinais “preocupantes”, 15,6% apresentam “sinais críticos” e 11,6% têm já
“sinais extremos” de esgotamento) e mais de 40% não se sentem profissionalmente
realizado.
Foram identificados alguns
factores explicativos dos resultados, a idade dos docentes, as questões
relativas à carreira, organização (burocracia na escola e gestão hierarquizada
das escolas) e o comportamento indisciplinado dos alunos.
Algumas notas.
De acordo com a Fenprof existirão
perto 12000 docentes em situação de baixa médica sendo que em Março, de acordo
com a ADSE estavam mais de seis mil professores com baixa médica há mais de
sessenta dias a aguardar pela realização de junta médica. O ME não divulga o
total de docentes em situação de baixa mas os directores escolares e a as
estruturas sindicais afirmam que tem aumentado.
Estarão recordados que também em
Março se realizou em Lisboa um encontro internacional organizado pelo ME, OCDE
e pela organização Internacional da Educação. O tema central da cimeira foi o
bem-estar dos professores pois “Não se deve perder a oportunidade de colocar o
bem-estar dos professores no centro das políticas de todos os países que
participam nesta cimeira”, afirmou a propósito o secretário-geral da IE, David
Edwards e o bem-estar dos professores terá de ser percebido pelos Governos como
“um tema político de primordial importância”. Sabe-se que se os docentes “se
sentem bem com eles próprios podem fazer uma diferença positiva no ensino dos
seus alunos” lê-se na nota de imprensa.
Escrevi na altura que a cimeira
acontecia em Portugal num tempo em que certamente a boa parte dos docentes não
se sentirá globalmente valorizada embora, os estudos o confirmam, globalmente
gostem da profissão, tal como os alunos apreciam positivamente o seu trabalho.
O estudo agora conhecido vem
apenas confirmar e actualizar o que já outros indiciavam.
Como causas mais contributivas
para este cenário de elevado stresse profissional são identificadas turmas com
elevado número de alunos, o comportamento indisciplinado e desmotivação dos
alunos, a pressão para os resultados, insatisfação com as condições
profissionais e de carreira, carga horária e burocrática, falta de trabalho em
equipa, falta de apoio e suporte das lideranças da escola.
Também deve ser objecto de
reflexão o peso da variável idade.
Conforme o Relatório “Perfil do
Docente”, divulgado em Julho de 2016 e considerando dados de 14/15 apenas 1.4%
dos docentes que leccionam em escolas públicas têm menos de 30 anos, não chegam
a 500.
Acresce que o grupo etário com
mais de 50 anos é o mais representado, 39.5%. Se a este grupo adicionarmos o
escalão imediatamente anterior, 40 aos 49, temos que 77,3% dos docentes estão
nos dois grupos mais velhos.
Se juntarmos o baixo número de
saídas para aposentação e como escrevia há algum tempo num país preocupado com
o futuro este cenário faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e
agir em conformidade. Acresce ainda os efeitos de grave situação relativa à
carreira, à progressão e ao estatuto salarial.
Na verdade, os dados só podem
surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa
parte dos opinadores que pululam pela comunicação social perorando sobre
educação e sobre os professores. Aliás, esta situação verifica-se noutros
países, sendo que para além dos professores, os profissionais de saúde e de
apoios sociais também integram os grupos profissionais mais sujeitos a stresse
e burnout.
Este quadro é inquietante, uma
população docente envelhecida e a revelar preocupantes sinais de desgaste.
Também se sabe que as oscilações
da demografia discente não explicam a saída de milhares de professores do
sistema, novos e velhos, como também não explicam a escassíssima renovação,
contratação de docentes novos. Sem estranheza, no universo do ensino privado é
bastante superior a presença de docentes mais jovens. Não esqueçamos ainda a
deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas
décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo,
um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que
sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um empenhado processo de
desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das escolas e nas
relações que a comunidade estabelece com estes profissionais.
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo
emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada
vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida,
cansada que se sente desvalorizada, pouco apoiada, e que muitas vezes,
demasiadas vezes, pergunta "Quanto tempo é que te falta?"
Na verdade, ser professor é uma
das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é
seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito e apoio deveria merecer.
Do seu trabalho depende o nosso futuro, tudo passa pela educação e pela escola.
E a verdade é que conforme os
estudos internacionais de natureza comparativa mostram o trabalho de
professores e alunos, tem revelado progressos importantes nos últimos anos
desencadeando, aliás, uma curiosa luta pela paternidade desses sucesso que,
obviamente, pertence a professores e alunos.
Os sistemas educativos com
melhores resultados são, justamente, os sistemas em que os professores são mais
valorizados, apoiados e reconhecidos.
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