O DN tem uma peça elucidativa e
contada na primeira pessoa sobre os obstáculos diariamente enfrentados pelas
pessoas com deficiência com mobilidade reduzida, a necessidade de usar cadeira
de rodas, no caso. O título é esclarecedor, "A longa espera de Bárbara por duas horas de independência".
Trata-se apenas mais um exemplo,
agora com cobertura mediática, da prova de obstáculos diária que a esmagadora
maioria das pessoas com mobilidade reduzida enfrentam e que é sempre oportuno
sublinhar.
Recordo que terminou em 8 de
Fevereiro de 2017 o prazo de 10 anos para que fosse cumprida a legislação que
tornasse os espaços, equipamentos e vias públicas acessíveis a cidadãos com
deficiência.
Conforme repetidamente assinalam
o Observatório para a Deficiência e Direitos Humanos e a Confederação Nacional
dos Organismos de Deficientes são múltiplas e significativas as dificuldades
enfrentadas diariamente por pessoas com mobilidade reduzida e de deslocação no
acesso a vias, espaços e equipamentos públicos. É certo que muito foi feito mas
muito mais está por cumprir.
São regularmente organizadas
iniciativas que que procuram alertar a comunidade as entidades responsáveis
para esse conjunto de dificuldades mas o impacto é baixo e lento. Os problemas
das minorias parecem ser problemas minoritários.
A questão afecta muitos cidadãos
e envolve áreas como vias, transportes, espaços edifícios, mobiliário urbano e,
sublinhe-se, a atitude e comportamento de muitos de nós.
Boa parte dos nossos espaços
urbanos não são amigáveis para os cidadãos com necessidades especiais mesmo em
áreas com requalificação recente. Estando atentos identificam-se inúmeros
obstáculos.
Quantas passadeiras para peões
têm os lancis dos passeios rampeados ou rebaixados ajustados à circulação de
pessoas com mobilidade reduzida que recorrem a cadeira de rodas?
Quantas passadeiras possuem
sinalização amigável para pessoas com deficiência visual?
Quantos obstáculos criados por
mobiliário urbano desadequado?
Quantas dificuldades no acesso às
estações e meios de transporte público?
Quantas caixas Multibanco são
acessíveis a pessoas com cadeira de rodas?
Quantos passeios estão ocupados
pelos nossos carrinhos, com mobiliário urbano erradamente colocado, degradados,
criando dificuldades enormes a toda a gente e em particular a pessoas com
mobilidade reduzida e inúmeros obstáculos?
Quantos programas televisivos ou
serviços públicos disponibilizam Língua Gestual Portuguesa tornando-os
acessíveis à população surda?
Quantos Centros de Saúde ou
outros espaços da Administração central ou local criam problemas de
acessibilidade?
Quantos espaços de lazer ou de
cultura mantêm barreiras arquitectónicas?
Quantos …?
Na verdade, apesar do muito que
já caminhámos, as crianças, jovens e adultos com necessidades especiais, bem
como as suas famílias e técnicos sabem, sentem, que a sua vida é uma árdua e
espinhosa prova de obstáculos muitos deles inultrapassáveis.
Lamentavelmente, boa parte dessas
dificuldades decorre do que as comunidades e as suas lideranças, políticas por
exemplo, entendem ser a geometria variável dos direitos, do bem comum e do
bem-estar das pessoas, de todas as pessoas.
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