Continuo a assistir com alguma
curiosidade à divulgação de algumas notícias sobre os professores.
O Expresso deste fim-de-semana
retoma um trabalho sobre as intenções dos jovens respondentes do PISA
de 2015 sobre o seu eventual interesse pela profissão docente e associa os
dados às notas de candidatura verificados em 2017 aos cursos de Formação de
Professores.
Vamos lá aos dados.
No que respeita à candidatura os
candidatos aos cursos de Formação de Professores e Ciências da Educação são os
alunos com médias mais baixas no processo de candidatura.
Na 1ª fase tiveram
um uma média de 130.7 em 200, apenas acima dos candidatos aos cursos de
Serviços Social. Por outro lado, segundo os dados do PISA de 2015 só 1.3% dos
alunos de 15 anos envolvidos encara a possibilidade de ser professor sendo que
estes alunos se situam nos níveis mais baixos de resultados a Matemática e
Leitura, o contrário do que se verifica noutros países e também mais baixo que
em 2006.
Dito de outra maneira e de forma
simples, são fundamentalmente os alunos de 15 anos com menor desempenho médio
(critério PISA) que admitem vir a ser professores e são basicamente os alunos
mais “fracos” na finalização do secundário que se candidatam a professores.
É interessante recordar que no
PISA de 2012 e no conjunto dos vários países, a maioria dos alunos portugueses
é da opinião de que os professores os ajudam. Portugal e Finlândia lideravam a
satisfação com a ajuda prestada pelo corpo docente (83% e 85%,
respectivamente). Isto quer dizer, conforme outros estudos demonstram, que os
alunos valorizam os professores mas não a profissão o que merece reflexão.
Duas notas prévias.
Em primeiro lugar julgo ser
necessária prudência sobre a interpretação destes dados e o seu impacto na
qualidade dos trajectos futuros, a relação entre o perfil de desempenho de um
aluno de 15 anos ou as médias do acesso ao ensino superior e o seu potencial
desempenho futuro como professor deve ser vista com extrema reserva. Não é
garantido que estes alunos venham a ser maus profissionais como não é garantido
que todos os alunos com médias mais elevadas que se candidatam a outras áreas
científicas venham a ser excelentes profissionais.
Uma segunda nota para defender
que este cenário também se liga ao mecanismo de acesso ao superior. De há muito
que defendo que as médias de conclusão do secundário deveriam ser apenas um dos
critérios de acesso ao superior e que deveriam ser as instituições de ensino
superior a estabelecer o conjunto de critérios na ordenação do acesso às
diferentes áreas científicas. Um caso simples (talvez demasiado simples) para
ilustrar isto. Eu quero ser professor mas sei que as notas de acesso são baixas
devido à baixa procura. Assim e como não me parece particularmente motivador o
que ando a aprender no secundário, cumpro a formação com resultados baixos que
me permitem aceder ao meu sonho no qual vou investir e ser bom aluno e bom
profissional. É inverosímil? Não creio.
No caso dos professores e das
ciências da educação, como noutras áreas, não é impossível desenhar
dispositivos de acesso que despistem vocações e motivações, competências
diversas e requisitos considerados pertinentes e considerem também,
naturalmente, as médias de conclusão do secundário.
No que que respeita à construção
de um bom professor importa ainda não esquecer variáveis fundamentais, a
qualidade da sua formação o que obriga a reflectir sobre o que é feito nesta
matéria e a regulação do acesso à carreira profissional através da única forma
de o fazer correctamente, o desempenho em sala de aula, e não uma sinistra PACC
de má memória.
Por outro lado também são de
considerar alguns outros aspectos. Não creio que a este cenário seja alheio
alguns discursos produzidos sobre os professores que desvalorizam e empobrecem
o seu estatuto social e a representação sobre a classe e que são produzidos,
por exemplo, por “opinion makers” que frequentemente têm agendas implícitas e
quase sempre estão mal informados.
Talvez também não seja alheia a
instabilidade nas políticas educativas com impacto óbvio na estabilidade das
carreiras e da sua valorização. Provavelmente em muitas famílias, as que mais
probabilidades terão de ter filhos com melhor desempenho escolar, a profissão
professor não é uma escolha incentivada ou, no mínimo, bem aceite.
Também alguns discursos vindos
dos próprios representantes dos professores podem muitas vezes contribuir para
equívocos e representações desajustadas sobre os professores e os seus
problemas.
Julgo ainda que deve ser
considerado o impacto de alterações nos valores, padrões e estilos e vida das
famílias que fazem derivar para a escola, para os professores, parte do papel
que competia(e) à família. Este trabalho é realizado, muitas vezes, sem
qualquer tipo de apoio ou suporte, com cada professor entregue a si mesmo em
climas institucionais pouco favoráveis.
Deste cenário resulta como tantas
vezes tenho afirmado a necessidade da valorização dos docentes e da sua
profissão de modo a que se torne mais atractiva.
Finalmente, tal como a peça do
Expresso refere o enviesamento preocupante da dos escalões etários dos
professores a curto prazo teremos muito provavelmente necessidade de mais
docentes.
Relembro e a peça do Expresso
refere-o que o envelhecimento muito significativo da classe colocará muito
rapidamente a necessidade de mais docentes.
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