Foi divulgado o Relatório de Avaliação da Actividade das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens relativo a 2017.
As CPCJ acompanharam 69 967 crianças e jovens menos 1049 que em 2016. Deste universo 837 crianças ou jovens têm algum tipo de deficiência ou incapacidade.
Duas notas para registar a
elevada percentagem de famílias monoparentais, 35%, e de famílias
reconstituídas, 12% e para a continuação do aumento da percentagem de agregados
familiares com escolaridade ao nível de bacharelato ou ensino superior, 8% dos
casos acompanhados em 2017.
Este cenário mostra como
circunstâncias e estilos de vida de risco para as crianças e adolescentes nem
sempre são atenuados pela formação escolar. Aliás, os dados de múltiplos
estudos sobre a forma como estudantes universitários percebem a violência nas
relações amorosas indicia o que poderemos encontrar e em futuros agregados
familiares.
A tipologia das situações acompanhadas
tem a distribuição que se tem verificado nos últimos anos cuja categorização
foi alterada face ao relatório de 2016 envolveu Negligência, 40,8%, Comportamentos
de perigo na infância e juventude, 18,3%, Situações de perigo que colocam em
causa o direito à educação, 17,3%, Exposição à violência doméstica,12,5%.
Deve ainda considerar-se que nem
todos os casos chegam às Comissões de Protecção o que torna o cenário ainda
mais preocupante sendo que na sua esmagadora maioria são sinalizados por
autoridades policiais e escolas.
Embora não possa ser estabelecida
de forma ligeira nenhuma relação de causa efeito, as dificuldades severas que
muitas famílias têm atravessado e a insuficiência de apoios sociais não serão
alheias a muitas das situações de risco em que crianças e jovens estão
envolvidos pois os estudos mostram que crianças e velhos constituem justamente
os grupos mais vulneráveis.
De há muito, a propósito de
várias questões, afirmo que em Portugal, apesar de existirem vários
dispositivos de apoio e protecção às crianças e jovens e de existir legislação
no mesmo sentido, sempre assente no incontornável “superior interesse da
criança", não possuímos ainda o que me parece mais importante, uma cultura
sólida de protecção das crianças e jovens como alguns exemplos que regularmente se conhecem evienciam.
Por outro lado, as condições de
funcionamento as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens que procuram fazer
um trabalho eficaz estão ainda longe de ser as mais eficazes e operam em
circunstâncias difíceis. Na sua grande maioria as Comissões têm
responsabilidades sobre um número de situações de risco ou comprovadas que transcendem
a sua capacidade de resposta. A parte mais operacional das Comissões, a
designada Comissão restrita, é composta por muitos técnicos em tempo parcial.
Tal dificuldade repercute-se, como é óbvio, na eficácia e qualidade do trabalho
desenvolvido, independentemente do esforço e empenho dos profissionais que as
integram.
Este cenário permite que ocorram
situações, frequentemente com contornos dramáticos, envolvendo crianças e
jovens que, sendo conhecida a sua condição de vulnerabilidade não tinham, ou
não tiveram, o apoio e os procedimentos necessários. Ainda acontece que depois
de alguns episódios mais graves se oiça uma expressão que me deixa
particularmente incomodado, a criança estava “sinalizada” ou “referenciada” o
que foi insuficiente para a adequada intervenção. Em Portugal sinalizamos e
referenciamos com relativa facilidade, a grande dificuldade é minimizar ou
resolver ou minimizar os problemas das crianças referenciadas ou sinalizadas.
Por isso, sendo importante
registar uma aparente menor tolerância da comunidade aos maus tratos aos
miúdos, também será fundamental que desenvolva a sua intolerância face à
ausência de respostas.
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