Ontem lembrei-me outra vez do
Badocha. Queria recordar o nome dele mas não consigo, sempre foi o Badocha,
companheiro da escola entre os seis e os doze, creio. Sempre foi o Badocha
porque era gordo e naquela altura os gordos eram Badochas. Ele não gostava de
ser o Badocha mas nós achávamos que ele só podia ser assim chamado. Não sabia jogar
futebol, não sabia correr com o arco e a gancheta, não ia com a gente apanhar
fruta e aos pássaros nas quintas que ainda existiam antes de terem inventado as
urbanizações.
Mal conseguia agachar-se para
jogar berlinde e jogar à rolha, um jogo de corrida, estava fora de questão, os
Badochas têm dificuldades nestas coisas. Nunca alinhava para fazer partidas aos
mais velhos nem gozar com os professores. A gente achava que um colega assim
não tinha grande préstimo, servia para pouco, era um Badocha. Às vezes até
pensávamos que ele se chateava mas a tentação era grande e ele nunca tinha
direito ao nome, era sempre o Badocha, mesmo nas aulas com os professores.
Aí por volta dos doze anos o
Badocha mudou de escola, provavelmente à procura de uma em que não fosse o
Badocha.
Não mais soubemos dele, não
soubemos se conseguiu recuperar o nome, o seu nome, não soubemos se encontrou
companheiros de escola que fossem, isso mesmo, companheiros.
Ultimamente, tenho-me lembrado
muito do Badocha.
Não vou a tempo mas gostava de te
pedir desculpa, companheiro.
PS - Esta lembrança decorreu de um encontro em que vários trabalhos se centraram no bullying, fonte de sofrimento para tantos crianças e adolescentes.
PS - Esta lembrança decorreu de um encontro em que vários trabalhos se centraram no bullying, fonte de sofrimento para tantos crianças e adolescentes.
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