No Público encontra-se uma série
de trabalhos que reflectem diferentes opiniões sobre as alterações verificadas
nos currículos. Nada de novo, a propósito de mudanças em educação surgem sempre, e com
razão face a práticas que conhecemos, inúmeras referências centradas no excesso
de alterações o que retira estabilidade e pensamento a prazo a este universo.
Paradoxalmente, ou talvez não, existem outras tantas referências que afirmam a
necessidade de mudanças. Como também é evidente, as opiniões traduzem visões e
valores relativamente à educação e à escola. É importante que assim seja em
sociedades abertas.
Acresce ainda que as opiniões
sobre o excesso de mudanças ou a sua necessidade são de uma natureza altamente
dispersa, quase individualizada, em modo “cada cabeça, sua sentença”.
Relativamente às mudanças em
matéria de currículo, desde o seu anúncio surgiu o habitual coro de “lá vem
mudança”, “retorno do facilitismo”, etc. Um outro coro afina pela necessidade
de ajustamento, embora para ambas as posições seja ainda pouco claro o sentido,
o alcance, o calendário ou o método da mudança.
Nesta perspectiva também o
atrevimento de umas notas que por desconhecimento não se dirigem aos conteúdos
curriculares mas mais ao modelo de currículo.
Julgo que seria de considerar a
extensão dos currículos definindo com a colaboração das associações
profissionais e de instituições de formação e investigação as dimensões
essenciais em cada área de conhecimento que possa ser eficaz, actual e potencie
maior flexibilização e diferenciação do trabalho em sala de aula. É possível
construir um modelo de organização e conteúdos que sustente práticas de gestão
curricular mais integradas a que se torna indispensável o incremento da margem
de autonomia das escolas na gestão curricular.
A verdade é que não me lembro de
muitas opiniões que entendessem como bons os modelos de currículo que estavam
em vigor à excepção da SPM no que respeita a Matemática. São mais
frequentemente entendidos como extensos, demasiado prescritivos e normativos,
pouco amigáveis para as diferenças entre alunos e para o número de alunos
habitual nas nossas salas de aula. Aliás, no que respeita à designada, educação
inclusiva, à medida que os currículos se têm tornado mais normativos e mais
prescritivos temos assistido à proliferação de opções curriculares
“alternativas” que mais não são em muitos casos que “guetos curriculares”
facilitadores de exclusão.
É verdade que mudar, só por
mudar, é errado e tem consequências negativas a vários níveis.
Mas também é verdade que não
mudar algo que não é positivo tem custos muito elevados, prolongados e com
impacto negativo em diferentes dimensões.
Finalmente, creio que o impacto
positivo de mudanças de natureza curricular não decorre “apenas” de questões
centradas no currículo. Envolve, por exemplo, recursos docentes, turmas com
efectivos adequados, apoios a alunos e professores em tempo oportuno,
suficientes e competentes, um entendimento sobre o papel, o peso, as
modalidades e os tempos da avaliação externa.
É nesta área que temo que se
mantenham alguns obstáculos aos efeitos potencialmente positivos de uma
orientação de mudanças necessárias em matéria de currículo.
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