sexta-feira, 27 de julho de 2018

DA QUESTÃO CURRICULAR


No Público encontra-se uma série de trabalhos que reflectem diferentes opiniões sobre as alterações verificadas nos currículos. Nada de novo, a propósito de mudanças em educação surgem sempre, e com razão face a práticas que conhecemos, inúmeras referências centradas no excesso de alterações o que retira estabilidade e pensamento a prazo a este universo. Paradoxalmente, ou talvez não, existem outras tantas referências que afirmam a necessidade de mudanças. Como também é evidente, as opiniões traduzem visões e valores relativamente à educação e à escola. É importante que assim seja em sociedades abertas.
Acresce ainda que as opiniões sobre o excesso de mudanças ou a sua necessidade são de uma natureza altamente dispersa, quase individualizada, em modo “cada cabeça, sua sentença”.
Relativamente às mudanças em matéria de currículo, desde o seu anúncio surgiu o habitual coro de “lá vem mudança”, “retorno do facilitismo”, etc. Um outro coro afina pela necessidade de ajustamento, embora para ambas as posições seja ainda pouco claro o sentido, o alcance, o calendário ou o método da mudança.
Nesta perspectiva também o atrevimento de umas notas que por desconhecimento não se dirigem aos conteúdos curriculares mas mais ao modelo de currículo.
Julgo que seria de considerar a extensão dos currículos definindo com a colaboração das associações profissionais e de instituições de formação e investigação as dimensões essenciais em cada área de conhecimento que possa ser eficaz, actual e potencie maior flexibilização e diferenciação do trabalho em sala de aula. É possível construir um modelo de organização e conteúdos que sustente práticas de gestão curricular mais integradas a que se torna indispensável o incremento da margem de autonomia das escolas na gestão curricular.
A verdade é que não me lembro de muitas opiniões que entendessem como bons os modelos de currículo que estavam em vigor à excepção da SPM no que respeita a Matemática. São mais frequentemente entendidos como extensos, demasiado prescritivos e normativos, pouco amigáveis para as diferenças entre alunos e para o número de alunos habitual nas nossas salas de aula. Aliás, no que respeita à designada, educação inclusiva, à medida que os currículos se têm tornado mais normativos e mais prescritivos temos assistido à proliferação de opções curriculares “alternativas” que mais não são em muitos casos que “guetos curriculares” facilitadores de exclusão.
É verdade que mudar, só por mudar, é errado e tem consequências negativas a vários níveis.
Mas também é verdade que não mudar algo que não é positivo tem custos muito elevados, prolongados e com impacto negativo em diferentes dimensões.
Finalmente, creio que o impacto positivo de mudanças de natureza curricular não decorre “apenas” de questões centradas no currículo. Envolve, por exemplo, recursos docentes, turmas com efectivos adequados, apoios a alunos e professores em tempo oportuno, suficientes e competentes, um entendimento sobre o papel, o peso, as modalidades e os tempos da avaliação externa.
É nesta área que temo que se mantenham alguns obstáculos aos efeitos potencialmente positivos de uma orientação de mudanças necessárias em matéria de currículo.

Sem comentários: