terça-feira, 27 de junho de 2017

VIDAS ADIADAS OU GERAÇÃO PERDIDA

Segundo o INE e considerando o primeiro trimestre deste ano, existirão em Portugal cerca de 175 mil jovens entre os 15 e os 29 anos que não estudam, nem trabalham, a geração “nem, nem" ou, na terminologia em inglês os jovens NEET (Not in Education, Employment or Training).
Destes, estima-se que perto de 67 mil não estão inscritos nos centros de emprego. São números impressionantes.
Parece importante assinalar que esta situação afecta sobretudo jovens com menos qualificações e mulheres, o que também não é novo. A exclusão escolar é quase sempre a primeira etapa da exclusão social.
Ao que se lê no Público o Governo está a desenhar uma “Estratégia de Sinalização Nacional de Jovens que NãoEstudam, Não Trabalham, Nem Frequentam Formação” com o objectivo de identificar e achegar a cerca de metade dos 67 000 que estão fora do sistema”, ou na linguagem sempre criativa da administração, os “jovens desencorajados”.
A ideia será montar uma rede de sinalização que os alcance e não, como é habitual, aguardar que sejas as pessoas a contactar os serviços o que entre “desencorajados” tende a acontecer embora não seja despiciendo considerar a desesperança da falta de resposta.
Esta rede assenta numa ideia de proximidade que parece um caminho interessante que envolve 1500 parceiros locais, entre autarquias, instituições particulares de solidariedade social e associações jovens.
É um imperativo de futuro, pessoal e nacional, a tentativa de “recuperar” estes cerca de 175 mil jovens.
A estes indicadores já profundamente inquietantes deve juntar-se os dados sobre precariedade, abuso do recurso a estágios e outras modalidades de aproveitamento de mão-de-obra barata e a prática de vencimentos que mais parecem subsídios de sobrevivência mesmo para jovens altamente qualificados.
Por outro lado, não podemos esquecer os muitos milhares de jovens que se viram empurrados para fora do país pois sentem que o seu futuro não mora aqui.
Esta situação complexa e de difícil ultrapassagem tem, obviamente, sérias repercussões nos projectos de vida das gerações que estão a bater à porta da vida activa. Entre outras, contar-se-ão o retardar da saída de casa dos pais por dificuldade no acesso a condições de aquisição ou aluguer de habitação própria ou o adiar de projectos de paternidade e maternidade que por sua vez se repercutem no inverno demográfico que atravessamos e que é uma forte preocupação no que respeita à sustentabilidade dos sistemas sociais. As gerações mais novas que experimentam enormes dificuldades na entrada sustentada na vida activa, vão também, muito provavelmente, conhecer sérias dificuldades no fim da sua carreira profissional.
No entanto, um efeito muito significativo mas menos tangível deste quadro precário ou sem alternativas aparentes, é a promoção de uma dimensão psicológica de precariedade face à própria vida no seu todo e que, com alguma frequência, os discursos das lideranças políticas acentuam. Dito de outra maneira, pode instalar-se, está a instalar-se, uma desesperança que desmotiva e faz desistir da luta por um projecto de vida de que se não vislumbra saída motivadora e que recompense. Estarão mais do que “desencorajados”.
Este problema que não é um exclusivo português, longe disso, exige uma visão e um conjunto de políticas que não se vislumbram e cuja ausência compromete a construção sustentável do futuro.
Podemos estar perante a tragédia das gerações perdidas de que há algum tempo se falava.

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