Segundo o INE e considerando o
primeiro trimestre deste ano, existirão em Portugal cerca de 175 mil jovens
entre os 15 e os 29 anos que não estudam, nem trabalham, a geração “nem, nem" ou, na
terminologia em inglês os jovens NEET (Not in Education, Employment or Training).
Destes, estima-se que perto
de 67 mil não estão inscritos nos centros de emprego. São números impressionantes.
Parece importante assinalar que
esta situação afecta sobretudo jovens com menos qualificações e mulheres, o que
também não é novo. A exclusão escolar é quase sempre a primeira etapa da exclusão social.
Ao que se lê no Público o Governo
está a desenhar uma “Estratégia de Sinalização Nacional de Jovens que NãoEstudam, Não Trabalham, Nem Frequentam Formação” com o objectivo de identificar
e achegar a cerca de metade dos 67 000 que estão fora do sistema”, ou na
linguagem sempre criativa da administração, os “jovens desencorajados”.
A ideia será montar uma rede de
sinalização que os alcance e não, como é habitual, aguardar que sejas as
pessoas a contactar os serviços o que entre “desencorajados” tende a acontecer embora
não seja despiciendo considerar a desesperança da falta de resposta.
Esta rede assenta numa ideia de
proximidade que parece um caminho interessante que envolve 1500 parceiros
locais, entre autarquias, instituições particulares de solidariedade social e
associações jovens.
É um imperativo de futuro,
pessoal e nacional, a tentativa de “recuperar” estes cerca de 175 mil jovens.
A estes indicadores já profundamente inquietantes deve juntar-se os dados sobre precariedade, abuso do recurso a estágios e
outras modalidades de aproveitamento de mão-de-obra barata e a prática de
vencimentos que mais parecem subsídios de sobrevivência mesmo para jovens
altamente qualificados.
Por outro lado, não podemos esquecer
os muitos milhares de jovens que se viram empurrados para fora do país pois
sentem que o seu futuro não mora aqui.
Esta situação complexa e de
difícil ultrapassagem tem, obviamente, sérias repercussões nos projectos de
vida das gerações que estão a bater à porta da vida activa. Entre outras,
contar-se-ão o retardar da saída de casa dos pais por dificuldade no acesso a
condições de aquisição ou aluguer de habitação própria ou o adiar de projectos
de paternidade e maternidade que por sua vez se repercutem no inverno
demográfico que atravessamos e que é uma forte preocupação no que respeita à
sustentabilidade dos sistemas sociais. As gerações mais novas que experimentam
enormes dificuldades na entrada sustentada na vida activa, vão também, muito
provavelmente, conhecer sérias dificuldades no fim da sua carreira
profissional.
No entanto, um efeito muito
significativo mas menos tangível deste quadro precário ou sem alternativas
aparentes, é a promoção de uma dimensão psicológica de precariedade face à própria
vida no seu todo e que, com alguma frequência, os discursos das lideranças
políticas acentuam. Dito de outra maneira, pode instalar-se, está a
instalar-se, uma desesperança que desmotiva e faz desistir da luta por um
projecto de vida de que se não vislumbra saída motivadora e que recompense.
Estarão mais do que “desencorajados”.
Este problema que não é um
exclusivo português, longe disso, exige uma visão e um conjunto de políticas
que não se vislumbram e cuja ausência compromete a construção sustentável do
futuro.
Podemos estar perante a tragédia
das gerações perdidas de que há algum tempo se falava.
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