O universo da educação é
reconhecidamente uma área em que se confrontam diversas visões de sociedade ou
ideologias, onde se confrontam metodologias e argumentos com base em diversas áreas
da ciência, onde se confrontam interesses de natureza exterior à educação e nem sempre coincidentes, antes pelo
contrário, onde se confrontam as conveniências da partidocracia, onde se
confrontam …
A conflitualidade decorrente não
é um problema em si, é um fenómeno natural e mesmo uma oportunidade de mudança.
No entanto, neste universo tem
emergido nos últimos anos uma outra dimensão de conflitualidade que por vezes
me causa alguma perplexidade embora compreenda alguns dos seus fundamentos. Refiro-me
à conflitualidade entre professores. Espero que os professores me desculpem ou me esclareçam se eventualmente estiver errado.
De há alguns anos para cá, com
particular ênfase a partir da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues e acentuando-se com a entrada no
período mais severo do fundamentalismo austeritário com Nuno Crato no ME, vários
aspectos das políticas educativas deram contributos sérios para um clima de
crispação e instabilidade nas escolas e na profissão no qual germina e se alimenta a conflitualidade entre
professores que, evidentemente, pode ser útil para a tutela política.
Recordo aspectos como a divisão
entre professores titulares e professores outros, o processo de avaliação de
professores lançado na mesma altura, a questão das quotas na avaliação,
decisões em matéria de carreira, concursos, critérios, horários, gestão dos recursos e das
cargas horárias, a sinistra PACC, etc, etc.
No entanto e apesar de tudo isto
que poderia ser um contributo para criar alguma coesão mesmo com o risco de
corporativismo, o que me pareceria ainda assim compreensível, vou assistindo com estranheza
a dimensões de acrimónia e conflitualidade entre professores que tenho mais dificuldade em entender.
Acompanhar a imprensa mas
sobretudo as redes sociais permite verificar isto mesmo, vejamos apenas alguns
exemplos.
É frequente verificarmos professores de diferentes ciclos em guerra entre si, os do 1º ciclo e educação pré-escolar
mais agrupados, o 2º e e 3º ciclo constituindo um outro grupo e os docentes do
secundário também do outro lado da barreira numa troca de acusações sobre diferentes matérias que nem
sempre consigo compreender.
É frequente um acantonamento por
função e temos mais um foco de acesa discussão, por exemplo entre professores titulares de turma e
professores de apoios educativos ou com outras funções. É também observável a crispação entre professores do sistema público e do sistema privado.
As discussões entre professores
sobre os grupos disciplinares, os concursos, as regras, os critérios, a
mobilidade como se o quadro definido fosse da responsabilidade individual de
cada docente.
As críticas de professores a trabalho
desenvolvido por outros professores quando esse trabalho parece ter algum
reconhecimento.
As críticas frequentes de
professores à formação de outros professores numa aligeirada definição entre
bons e maus consoante a tipologia da formação que tiveram ou as instituições onde as obtiveram como se tudo acabasse onde na verdade apenas começa.
Bom, mais exemplos se poderiam
dar.
Não defendo, muito pelo
contrário, os falsos consensos e a unanimidade de opiniões e, como já disse,
vejo os conflitos como oportunidades de desenvolvimento.
No entanto, o tanto que aproxima
quem é Professor é muito mais do que separa quem é Professor.
Porquê e para quê este clima
entre profissionais de educação?
Desculparão o atrevimento deste
texto mas não serve desde logo aos professores, à sua valorização social, à
sua coesão ou à promoção e divulgação da qualidade do seu trabalho.
Estarei errado?
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