sexta-feira, 16 de junho de 2017

DOS PROFESSORES

O universo da educação é reconhecidamente uma área em que se confrontam diversas visões de sociedade ou ideologias, onde se confrontam metodologias e argumentos com base em diversas áreas da ciência, onde se confrontam interesses de natureza exterior à educação e nem sempre coincidentes, antes pelo contrário, onde se confrontam as conveniências da partidocracia, onde se confrontam …
A conflitualidade decorrente não é um problema em si, é um fenómeno natural e mesmo uma oportunidade de mudança.
No entanto, neste universo tem emergido nos últimos anos uma outra dimensão de conflitualidade que por vezes me causa alguma perplexidade embora compreenda alguns dos seus fundamentos. Refiro-me à conflitualidade entre professores. Espero que os professores me desculpem ou me esclareçam se eventualmente estiver errado.
De há alguns anos para cá, com particular ênfase a partir da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues e acentuando-se com a entrada no período mais severo do fundamentalismo austeritário com Nuno Crato no ME, vários aspectos das políticas educativas deram contributos sérios para um clima de crispação e instabilidade nas escolas e na profissão no qual germina e se alimenta a conflitualidade entre professores que, evidentemente, pode ser útil para a tutela política.
Recordo aspectos como a divisão entre professores titulares e professores outros, o processo de avaliação de professores lançado na mesma altura, a questão das quotas na avaliação, decisões em matéria de carreira, concursos, critérios, horários, gestão dos recursos e das cargas horárias, a sinistra PACC, etc, etc.
No entanto e apesar de tudo isto que poderia ser um contributo para criar alguma coesão mesmo com o risco de corporativismo, o que me pareceria ainda assim compreensível, vou assistindo com estranheza a dimensões de acrimónia e conflitualidade entre professores que tenho mais dificuldade em entender.
Acompanhar a imprensa mas sobretudo as redes sociais permite verificar isto mesmo, vejamos apenas alguns exemplos.
É frequente verificarmos professores de diferentes ciclos em guerra entre si, os do 1º ciclo e educação pré-escolar mais agrupados, o 2º e e 3º ciclo constituindo um outro grupo e os docentes do secundário também do outro lado da barreira numa troca de acusações sobre diferentes matérias que nem sempre consigo compreender.
É frequente um acantonamento por função e temos mais um foco de acesa discussão, por exemplo entre professores titulares de turma e professores de apoios educativos ou com outras funções. É também observável a crispação entre professores do sistema público e do sistema privado.
As discussões entre professores sobre os grupos disciplinares, os concursos, as regras, os critérios, a mobilidade como se o quadro definido fosse da responsabilidade individual de cada docente.
As críticas de professores a trabalho desenvolvido por outros professores quando esse trabalho parece ter algum reconhecimento.
As críticas frequentes de professores à formação de outros professores numa aligeirada definição entre bons e maus consoante a tipologia da formação que tiveram ou as instituições onde as obtiveram como se tudo acabasse onde na verdade apenas começa.
Bom, mais exemplos se poderiam dar.
Não defendo, muito pelo contrário, os falsos consensos e a unanimidade de opiniões e, como já disse, vejo os conflitos como oportunidades de desenvolvimento.
No entanto, o tanto que aproxima quem é Professor é muito mais do que separa quem é Professor.
Porquê e para quê este clima entre profissionais de educação?
Desculparão o atrevimento deste texto mas não serve desde logo aos professores, à sua valorização social, à sua coesão ou à promoção e divulgação da qualidade do seu trabalho.
Estarei errado?

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