domingo, 11 de junho de 2017

ESTAS CRIANÇAS NÃO PÁRAM! ERRADO, ESTAS CRIANÇAS NÃO SE MEXEM

No Público surge uma referência a um estudo desenvolvido no âmbito de um projecto internacional, A Aliança “Active Healthy Kids”, que analisa o nível de desenvolvimento em matéria de estilos de vida saudáveis, designadamente no que respeita à actividade física de crianças e adolescentes.
O projecto decorre dos níveis de sedentarismo e obesidade preocupantes revelados por crianças e jovens e pretende estimular a definição nos diferentes países de políticas públicas mais favoráveis.
Sem estranheza face aos dados conhecidos de outros estudos, as crianças e jovens portugueses em nenhum dos nove domínios considerados atingem os indicadores mais positivos.
Apesar disto é curioso que uma das mais frequentes afirmações dirigidas ao comportamento das crianças e adolescentes é “Estas crianças não param”, ou algo no mesmo sentido. Na verdade, apesar da frequência da sua utilização, parece-me desajustada pois, de facto, as crianças não se mexem e, também por isso provavelmente ... "não páram". Este estudo vem mais uma vez comprovar isso mesmo. Mais alguma informação.
Segundo o Relatório “Health at a Glance: Europe 2016” em Portugal mais de uma em cada quatro crianças tem excesso de peso. Nas raparigas ultrapassa os 30% e nos rapazes temos 25%.
Acresce que no que respeita à actividade física e considerando a recomendação da OMS de uma hora diária de actividade física aos 11 anos só 16% das raparigas e 26% dos rapazes cumprem e aos 15 anos temos 5% das raparigas e 18% dos rapazes.
Creio ainda de sublinhar que estudos realizados em Portugal mostram que a obesidade infantil é já um problema de saúde pública, implicando por exemplo o disparar de casos de diabete tipo II em crianças.
Apesar de parecer uma birra ou teimosia acho sempre importante sublinhar a importância que deve merecer a questão dos hábitos alimentares e o combate ao sedentarismo, sobretudo nos mais novos.
Ainda no que respeita à actividade física, um trabalho da Universidade de Coimbra divulgado em 2013 sublinhava, mais uma vez, o impacto que o sedentarismo tem na saúde das crianças. Este estudo envolveu 17424 crianças entre os 3 e os 11 anos e mostrou a forte relação entre hábitos fortemente sedentários, ver televisão por exemplo, e obesidade infantil e óbvias consequências na saúde e bem-estar dos miúdos.
Um outro trabalho de 2012 da Faculdade de Motricidade Humana envolvendo cerca de 3000 alunos que evidenciava o efeito positivo da actividade física no rendimento escolar para além dos benefícios óbvios na saúde.
De registar ainda que apesar da simpatia do clima somos um dos países com menor prática de actividades de ar livre.
De facto, o quotidiano de crianças e adolescentes está excessivamente preenchido com actividades que solicitam pouca actividade física, numa escola a tempo inteiro em que, apesar de boas práticas que existem, passam horas sem fim em salas com actividades “fantásticas” sempre sentados ou, quase, parados.
Em casa, o cenário é do mesmo tipo só que em frente de um ecrã. Os estudos comprovam que o nível de actividade física de crianças e adolescentes está francamente abaixo do desejável para a sua faixa etária sendo, aliás, mais satisfatório em adultos e também baixo para os idosos. Por outro lado, este é o equívoco a que me referia, instalou-se a “ideia” de que as crianças e adolescentes não param, são muito activas, até mesmo hiperactivas” pelo que os desejos de muitos pais e professores é que estejam mais “calmas”, mais “sossegadas” e não tão “activas”, às vezes até se medicam para que se aquietem.
Por isso e de uma vez por todas, que crianças e adolescentes não parem, que as não envolvam e incentivem a actividade sedentária tantas horas por dia e que ajudemos todos pais e comunidades a construir alternativas que sejam atractivas para os tempos dos mais novos.
É uma questão de saúde, física e mental, para crianças e adolescentes e, também, para os adultos que lidam com eles.

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