Sem estranheza, estamos em plena
época alta, o Público trazia ontem um extenso trabalho sobre os exames do
secundário criando um espaço de reflexão em torno da sua existência, modelo e
função.
Creio que no contexto actual a
existência de exames nacionais no ensino secundário parece-me justificada como
forma de regulação advinda de uma avaliação externa associada à avaliação interna. No que respeita ao seu
modelo creio que seria interessante, tal como algumas opiniões expressam, caminhar
para modelos de exame mais integrados em matéria curricular e menos centrados
em mobilização instrumental de conhecimentos e mais diversificados nos dispositivos e suportes.
A terceira questão, a função, é
que me parece carecer de reflexão e mudança.
Contrariamente ao que se passa em
muitos países os resultados dos exames têm um peso muito significativo no
acesso ao ensino superior o que contamina e enviesa aquela que me parecer a sua
função central. Os exames nacionais destinam-se, conjugados com a avaliação
realizada nas escolas, a avaliar e certificar o trabalho escolar produzido
pelos alunos do ensino secundário. Não deveria ser mais do que isto.
Como tantas vezes tenho
defendido, o acesso ao ensino superior é uma outra matéria que deveria ser da
responsabilidade do ensino superior e estar sob a sua tutela.
A situação existente, não permite
qualquer intervenção consistente do ensino superior na admissão dos seus
alunos, a não ser a pouco frequente definição de requisitos em alguns cursos, o
que até torna estranha a passividade aparente por parte das universidades e
politécnicos, instituições sempre tão defensoras da sua autonomia. Parece-me claro
que o ensino superior fazendo o discurso da necessidade de intervir na selecção
de quem o frequenta não está interessado na dimensão logística e processual
envolvida.
Os resultados escolares do ensino
secundário deveriam constituir apenas um factor de ponderação a contemplar com
outros critérios nos processos de admissão organizados pelas instituições de
ensino superior como, aliás, acontece em muitos países.
Sediar no ensino superior o
processo de admissão minimizaria muitos dos problemas conhecidos decorrentes do
facto da média de conclusão do ensino secundário ser o único critério utilizado
para ordenar os alunos no acesso e eliminaria o “peso” das notas inflacionadas
em diversas circunstâncias e tantas vezes divulgado. Minimizaria também a forma
como é percebida pelos alunos a importância de todas as disciplinas do
secundário sobrevalorizando, naturalmente, as disciplinas específicas
relativamente ao curso a que pretendem aceder.
Será que se chegará a algum
consenso sobre esta questão?
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