Pelo título poderia pensar-se que
me refiro ao estranho bailado cantado pelos Trovante em “Travessa do Poço dos
Negros”, mas não, nem sequer é em tom dolente.
Vejamos então de que se trata.
Boa parte das minhas manhãs de
Verão em tempo de férias passa por deambulações matinais pelas minhas praias
de sempre, as da Costa da Caparica, as mais bonitas do mundo desde que se tenha
o cuidado de manter o olhar sempre na praia e no mar para não enfrentar o
terrorismo urbanista que décadas de incompetência e negligência produziram.
Sempre que a maré está em baixa
podemos assistir a um espectáculo curiosíssimo. Muitíssimas pessoas à beirinha
da água agitam-se furiosamente num estranho bailado rodopiante, ora em cima de
um pé, ora em cima do outro, abrem buracos na areia e de vez em quando
baixam-se.
A coreografia, devo dizer, não é
particularmente brilhante e criativa mas a performance envolve, e isso é
notável, bailarinos de todas as idades, predominando adultos e seniores, todos
com o mesmo empenho. A produção também não é superlativa, predominam os fatos
de banho clássicos, um boné ou um mais sofisticado “panamá” na cabeça e uma
garrafinha na mão para onde diligentemente é remetido o resultado do estranho
bailado, meia dúzia de minúsculas cadelinhas que gozando as delícias do mar da
Costa estavam bem longe de se imaginar engarrafadas pelos azafamados
bailarinos.
Não sei o que mais admirar. Por
um lado, acho notável o empenho e a atitude profissional dos bailarinos que
sempre que apanham uma desgraçada cadelinha olham à volta para se certificar
que alguém viu como caçaram, ou pescaram, mais uma e de que aquela não vai
parar à garrafinha do bailarino da poça a seguir. Por outro lado, acho
fantástico imaginar aqueles bailarinos e a respectiva família a preparar um
delicioso e bem regado lanche com a meia dúzia de cadelinhas pequeninas, ainda
juniores, que a sua empreendedora acção matinal conseguiu e que, para uma
família média, dará, pelo menos, a indigesta enormidade de uma ou duas por
prato.
Este estranho bailado ficaria
muito bem numa versão beira-mar do notável “Aquele querido mês de Agosto” de
Miguel Gomes.
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