A imprensa de hoje destaca o
conhecido fenómeno das escolas simpáticas, as escolas em que as notas da
avaliação interna são sistemática e significativamente mais elevadas que as
notas obtidas pelos seus alunos nos exames nacionais.
Em termos genéricos e telegráficos
sublinhar que se no caso das escolas “simpáticas”, as que inflacionam as notas,
predominam as escolas privadas, no caso das escolas em que os alunos obtêm
melhores resultados nos exames que nas avaliações internas predominam as
públicas, ou seja, o “facilitismo” das escolas públicas que alguns apregoam não
será tão claro.
De registar ainda que considerando
as escolas que mais promovem progressão nos alunos entre o 9º e o 12º também
predominam as escolas públicas.
Também é de referir o nível de
retenção e abandono que apesar de em queda é ainda bastante alto. Num outro
texto retomarei a questão do insucesso.
Retomando as notas inflacionadas,
de facto, a disponibilização dos dados relativos ao secundário no Infoescolas,
uma boa medida do MEC, confirma a situação que já o CNE e um estudo da
Universidade do Porto tinham colocado e é do conhecimento das comunidades. Recordo que decorre ainda um inquérito promovido pelo MEC em alguns estabelecimentos.
Aliás, em muitas zonas as
escolas, privadas, sobretudo, mas também algumas públicas são "escolhidas"
pelas famílias também em função deste conhecimento.
Deve ser a isto que se chama
liberdade da educação. Aliás, curiosamente, segundo os dados do estudo da
Universidade do Porto é justamente nos colégios sem contrato de associação, os
que recebem “apenas” os alunos que entendem, que as notas internas são mais “inflacionadas”,
por assim dizer.
Os responsáveis pelas escolas em
que o “fenómeno” é mais evidente tentam explicá-lo de formas diferentes e em
alguns aspectos até bastante curiosas, projecto pedagógico ou educativo da
instituição, entendimento diferenciado sobre o próprio papel da avaliação
interna, etc. No mesmo sentido, o Director da Associação de Estabelecimentos de
Ensino Particular e Cooperativo, sempre criativo, apresenta há meses uma
justificação em torno de "estratégias pedagógicas" que é uma peça de
antologia.
Ainda no domínio do que se passa no âmbito das avaliações internas seria interessante verificar o que se passa em muitos estabelecimentos privados nas disciplinas não sujeitas a exame nacional.
Ainda no domínio do que se passa no âmbito das avaliações internas seria interessante verificar o que se passa em muitos estabelecimentos privados nas disciplinas não sujeitas a exame nacional.
No entanto, do meu ponto de
vista, afirmo-o de há muito, a questão central radica numa questão central, a
conclusão e certificação de conclusão do ensino secundário e a candidatura ao
ensino superior deveriam ser processos separados.
Os exames nacionais destinam-se,
conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o
trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente,
está sediado no ensino secundário. Neste cenário caberiam também as outras
modalidades que permitem a equivalência ao ensino secundário, como é o caso do
ensino artístico especializado ou recorrente em que também se verificam algumas
"especificidades", por assim dizer.
O acesso ao ensino superior é um
outro processo que deveria ser da responsabilidade do ensino superior e estar
sob a sua tutela.
A situação existente, não permite
qualquer intervenção consistente do ensino superior na admissão dos seus
alunos, a não ser a pouco frequente definição de requisitos em alguns cursos, o
que até torna estranha a passividade aparente por parte das universidades e
politécnicos, instituições sempre tão ciosas da sua autonomia. Parece-me claro
que o ensino superior fazendo o discurso da necessidade de intervir na selecção
de quem o frequenta não está interessado na dimensão logística e processual envolvida.
Os resultados escolares do ensino
secundário deveriam constituir apenas um factor de ponderação a contemplar com
outros critérios nos processos de admissão organizados pelas instituições de
ensino superior como, aliás, acontece em muitos países.
Sediar no ensino superior o
processo de admissão minimizaria muitos dos problemas conhecidos decorrentes do
facto da média de conclusão do ensino secundário ser o único critério utilizado
para ordenar os alunos no acesso e eliminaria o “peso” das notas inflacionadas
em diversas circunstâncias. A investigação da Universidade do Porto mostrou
como um ou dois valores a mais podem “valer” a entrada na universidade ou no
curso que se quer.
Enquanto não se verificar a
separação da conclusão do secundário da entrada no superior corremos o risco de
lidar com situações desta natureza embora a transparência as possa minimizar.
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