quinta-feira, 27 de agosto de 2015

DA PRODUTIVIDADE EM SAÚDE

Assim, cada médico que trabalhe 35h poderá ter 1905 cidadãos na sua lista e os médicos que trabalhem 40 hora poderão ter 2260.
É verdade que existem muitas centenas de milhares de cidadãos sem médico de família, listas de espera intermináveis e em muitos centros e unidades de saúde desespera-se por uma consulta que nem noites passadas em filas de espera conseguem garantir. Na verdade, a saúde não vai tão bem como desejaríamos e existe uma enorme pressão sobre os clínicos e demais pessoal no sistema de saúde. Sabe-se que alguns médicos de família são já responsáveis por milhares de doentes.
Acresce que muitas das pessoas que recorrem às consultas são idosas que frequentemente sofrem de “sozinhismo”, a doença de quem vive só, que se minimiza no convívio com outros sós na sala de espera e na atenção de um médico que escuta, por vezes, mais a dor da alma que as dores do corpo.
Neste cenário, a consulta é um espaço essencial de segurança e conforto para essas pessoas. Já estive envolvido em circunstâncias, pessoais ou acompanhando familiares, em que o médico claramente estava pressionado pelo tempo que (não) podia dedicar, a atitude que (não) podia demonstrar, a comunicação que (não) podia estabelecer.
As muitas pessoas com horas de espera na sala inibem-no na atitude, na comunicação e disponibilidade e, finalmente, pressionam-no na produtividade, sempre a produtividade.
Temo que o aumento de utentes por médico e a pressão acrescida sobre os profissionais, com as implicações decorrentes da sua “produtividade” e “desempenho” possam ameaçar a qualidade dos serviços prestados.
Aliás, alguns indicadores sugerem essa degradação.
Ainda assim, nada que se estranhe num tempo em que os números se sobrepõem às pessoas.

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