Assim, cada médico que trabalhe
35h poderá ter 1905 cidadãos na sua lista e os médicos que trabalhem 40 hora
poderão ter 2260.
É verdade que existem muitas
centenas de milhares de cidadãos sem médico de família, listas de espera intermináveis
e em muitos centros e unidades de saúde desespera-se por uma consulta que nem
noites passadas em filas de espera conseguem garantir. Na verdade, a saúde não
vai tão bem como desejaríamos e existe uma enorme pressão sobre os clínicos e
demais pessoal no sistema de saúde. Sabe-se que alguns médicos de família são
já responsáveis por milhares de doentes.
Acresce que muitas das pessoas
que recorrem às consultas são idosas que frequentemente sofrem de “sozinhismo”,
a doença de quem vive só, que se minimiza no convívio com outros sós na sala de
espera e na atenção de um médico que escuta, por vezes, mais a dor da alma que
as dores do corpo.
Neste cenário, a consulta é um
espaço essencial de segurança e conforto para essas pessoas. Já estive envolvido
em circunstâncias, pessoais ou acompanhando familiares, em que o médico
claramente estava pressionado pelo tempo que (não) podia dedicar, a atitude que
(não) podia demonstrar, a comunicação que (não) podia estabelecer.
As muitas pessoas com horas de
espera na sala inibem-no na atitude, na comunicação e disponibilidade e,
finalmente, pressionam-no na produtividade, sempre a produtividade.
Temo que o aumento de utentes por
médico e a pressão acrescida sobre os profissionais, com as implicações
decorrentes da sua “produtividade” e “desempenho” possam ameaçar a qualidade
dos serviços prestados.
Aliás, alguns indicadores sugerem
essa degradação.
Ainda assim, nada que se estranhe
num tempo em que os números se sobrepõem às pessoas.
Sem comentários:
Enviar um comentário