Não duvido da seriedade, competência
ou empenho dos profissionais envolvidos nestas experiência de “uma nova terapia de relaxamento, com recurso
a patos e lontras, destinada a pessoas portadoras de deficiência física ou
mental “ como também não duvido que nas crianças, jovens e adultos
destinatários da “nova terapia” se registem alterações positivas. Quando
pessoas em situação mais vulnerável recebem atenção, estímulo, apoio e
envolvimento, por princípio, notar-se-á melhoria na sua condição, independentemente
da actividade, dentro do que será racional e aceitável.
As notas que se seguem partem
desta notícia mas relevam, fundamentalmente, de que nos últimos anos e no que
respeita aos problemas, de diferentes âmbitos e gravidade, que afectam as
crianças e adolescentes, sobretudo mas não só, têm vindo a emergir uma gama sem
fim de abordagens "terapêuticas" da mais variada natureza das quais,
numa espécie de pensamento mágico, se anunciam ou esperam resultados milagrosos
que nem sempre são comprovados com validade científica, embora muita gente
possa "atestar" melhoras que, evidentemente,
alimentam o recurso a esta gama do que eu chamo a "tudoterapia", ou
seja, tudo é terapêutico.
A minha inquietação decorre, essencialmente,
do que acontece com os pais, conheço muitas situações, quando se envolvem
nestas experiências. As suas fragilidades e impotência face aos problemas que
os filhos evidenciam, a vontade inesgotável de tentar ou experimentar o que
estiver ao seu alcance para que os problemas se atenuem ou desapareçam, leva-os
a investirem imenso nessas abordagens que, na verdade, não são milagrosas e não
têm resultados garantidos.
Para além dos custos, da frustração
em caso de insucesso, o mais provável na maior parte da
"tudoterapia", alguns pais podem ainda sentir-se culpados porque, por
exemplo, devido a circunstâncias económicas ou de acessibilidade, não podem
providenciar tais "terapêuticas" aos seus filhos. A
"evolução", que por vezes se regista em algumas situações, pode
dever-se, por exemplo, a um efeito placebo, a uma maior atenção dada à criança
ou adolescente, e não decorrer das propriedades terapêuticas do procedimento,
para as quais, como referi, não existe nas mais das vezes, validade científica.
Neste cenário, os técnicos têm um
papel fundamental, embora difícil, de contenção das angústias e necessidades
dos pais, no sentido de procederem a abordagens sérias e realistas sobre os
objectivos, limites e resultados esperados das intervenções disponíveis,
ajudando e orientando as famílias nas escolhas e decisões.
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