sexta-feira, 28 de agosto de 2015

DOS AUXILIARES DE EDUCAÇÃO LICENCIADOS, MESTRES E DOUTORES

A imprensa de hoje refere, sem surpresa, que nos concursos abertos pelas escolas e agrupamentos para assistentes operacionais cujas funções incluem vigilância de alunos, trabalho de limpeza e cozinha, estão surgir numerosas candidaturas de pessoas com formação superior incluindo mestrado e doutoramento.
Já estou a ver o Ministro Nuno Crato a convocar uma conferência de imprensa para anunciar como pela acção o Governo, Portugal deu um salto brutal no desenvolvimento e de acordo as mais recentes estatísticas da OCDE e do EUROSTAT apresenta a classe de auxiliares em escolas com o maior nível de habilitações da UE e da OCDE.
Mais a sério, esta questão não surpreende, mesmo quando estes lugares agora a concurso eram preenchidos no quadro Programa Contrato Inserção – Emprego com pagamento a 3.20€ por hora já gente licenciada se candidatava. Agora com um ordenado brutal de 505€ é claro que muito mais gente qualificada será atraída. Na imprensa de ontem vi o Edital de uma Agrupamento de Escolas para a contratação de 4 assitentes operacionais a tempo parcial (4 horas) com "valor remuneratório" de 2,92€ por hora, sim leram bem, 2,91€ por hora. No entanto, privilégio dos privilégios, "acresce subsídio de refeição na prestação diária de trabalho". "Valor remuneratório" 2,91€ por hora?! Haja pudor.
Sabemos (quase) todos que o trabalho e um emprego são parte da dignidade das pessoas e por isso tanta gente neste país sente que lhe roubaram a dignidade.
No entanto, esta situação, gente com qualificações bem acima do necessário para as funções a que se candidata e com um vencimento baixíssimo é consequência da proletarização da economia, do abaixamento e desvalorização do trabalho e incremento da precariedade que servem uma ideia salvífica de empobrecimento que tem informado as políticas nos anos mais recentes.
Por outro lado, aos modelos de desenvolvimento social e económico junta-se uma desregulação da oferta no ensino superior criando desajustamentos sérios entre oferta e procura embora, sempre o afirmo, a oferta do ensino superior não deva andar a reboque do mercado também não o pode esquecer.
Deste cenário resulta um conjunto enorme de gente com qualificação superior sem entrada num mercado de trabalho que por sub-desenvolvimento e precarização não a absorve e se vê obrigada a emigrar ou a aceitar vencimentos e funções que são mais um subsídio de sobrevivência que um salário que não compensa o seu investimento e da família e não é suporte para um projecto de vida.
Com esta notícia, basta ver a caixa de comentários na imprensa “online”, lá vem o “mantra” do “país de doutores” quando, apesar do progresso verificado, continuamos a ser dos países com menos gente com formação superior e longe das metas estabelecidas pela UE para 2020.

PS - Não está em causa, evidentemente, a dignidade e a importância  da função nas escolas dos assistentes operacionais, já aqui a tenho acentuado. Aliás, comecei a minha vida profissional, ainda estudante, com estas funções.

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