A imprensa de hoje refere, sem
surpresa, que nos concursos abertos pelas escolas e agrupamentos para assistentes
operacionais cujas funções incluem vigilância de alunos, trabalho de limpeza e
cozinha, estão surgir numerosas candidaturas de pessoas com formação superior incluindo mestrado e doutoramento.
Já estou a ver o Ministro Nuno
Crato a convocar uma conferência de imprensa para anunciar como pela acção o
Governo, Portugal deu um salto brutal no desenvolvimento e de acordo as mais
recentes estatísticas da OCDE e do EUROSTAT apresenta a classe de auxiliares em
escolas com o maior nível de habilitações da UE e da OCDE.
Mais a sério, esta questão não surpreende,
mesmo quando estes lugares agora a concurso eram preenchidos no quadro Programa
Contrato Inserção – Emprego com pagamento a 3.20€ por hora já gente licenciada
se candidatava. Agora com um ordenado brutal de 505€ é claro que muito mais
gente qualificada será atraída. Na imprensa de ontem vi o Edital de uma Agrupamento de Escolas para a contratação de 4 assitentes operacionais a tempo parcial (4 horas) com "valor remuneratório" de 2,92€ por hora, sim leram bem, 2,91€ por hora. No entanto, privilégio dos privilégios, "acresce subsídio de refeição na prestação diária de trabalho". "Valor remuneratório" 2,91€ por hora?! Haja pudor.
Sabemos (quase) todos que o trabalho e um emprego são parte da dignidade das pessoas e por isso tanta gente neste país
sente que lhe roubaram a dignidade.
No entanto, esta situação, gente
com qualificações bem acima do necessário para as funções a que se candidata e
com um vencimento baixíssimo é consequência da proletarização da economia, do
abaixamento e desvalorização do trabalho e incremento da precariedade que
servem uma ideia salvífica de empobrecimento que tem informado as políticas nos
anos mais recentes.
Por outro lado, aos modelos de
desenvolvimento social e económico junta-se uma desregulação da oferta no
ensino superior criando desajustamentos sérios entre oferta e procura embora,
sempre o afirmo, a oferta do ensino superior não deva andar a reboque do
mercado também não o pode esquecer.
Deste cenário resulta um conjunto
enorme de gente com qualificação superior sem entrada num mercado de trabalho
que por sub-desenvolvimento e precarização não a absorve e se vê obrigada a
emigrar ou a aceitar vencimentos e funções que são mais um subsídio de
sobrevivência que um salário que não compensa o seu investimento e da família e
não é suporte para um projecto de vida.
Com esta notícia, basta ver a
caixa de comentários na imprensa “online”, lá vem o “mantra” do “país de doutores”
quando, apesar do progresso verificado, continuamos a ser dos países com menos
gente com formação superior e longe das metas estabelecidas pela UE para 2020.
PS - Não está em causa, evidentemente, a dignidade e a importância da função nas escolas dos assistentes operacionais, já aqui a tenho acentuado. Aliás, comecei a minha vida profissional, ainda estudante, com estas funções.
Sem comentários:
Enviar um comentário