Apesar dos rendimentos das
famílias continuarem revistos em baixa o volume de apostas nos chamados “jogos
sociais” tem vindo a aumentar. Aliás, em 2013 Portugal já era o país europeu
que mais investia "per capita" no Euromilhões, ou seja, queremos
mesmo ser "excêntricos".
Na verdade, o Totobola e depois o
Euromilhões, o Totoloto e, posteriormente a Raspadinha estabeleceram-se
firmemente na vida de muitos de nós e criaram mesmo uma imagem criadora de
futuro que nos move, provavelmente e para muitas pessoas, a única imagem
criadora de futuro.
Importa reconhecer que as imagens
criadoras de futuro são imprescindíveis, tanto mais quando atravessamos tempos
duros marcados por desesperança.
No que respeita ao Euromilhões,
julgo que se pode afirmar que em muitos lares portugueses e hoje mais do que
nunca, uma das frases mais ouvidas é “nunca mais me sai o euromilhões, para
deixar de trabalhar”. Muito provavelmente, cada um de nós já ouviu, pensou ou
disse esta expressão alguma vez ou vezes. Creio também que não é usada apenas
pelos cidadãos com maiores dificuldades.
Acho curiosa a sua utilização.
Entendo, naturalmente, a ideia subjacente à primeira parte. Um prémio de valor
substantivo representaria, seguramente, a hipótese de acesso a um patamar
superior de bem-estar económico, desejado, naturalmente, por toda a gente. O
que de facto me parece mais interessante é o complemento “para deixar de
trabalhar”. É certo que nem todas as expressões devem ser entendidas no seu
valor “facial”, mas é também verdade que a recorrente afirmação deste desejo
acaba por ilustrar a relação que muitos de nós estabelecemos com o lado
profissional da nossa vida, isto é, “quero livrar-me dele o mais depressa
possível”. Não será grave, mas é um indicador que possibilita várias leituras.
Neste contexto sabem qual é a
minha inquietação? É se os miúdos, considerando a agitação que vai pelo seu
mundo “laboral”, desatam a pedir, se puderem, um aumento de mesada que lhes permita apostar no
Euromilhões para … deixar de ir à escola.
Já estivemos mais longe.
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