segunda-feira, 10 de agosto de 2015

COM AMIGOS DESTES ...


Neste contexto, gostava também de recuperar a entrevista dada em Maio ao Público por Phippe Legrain, ex-conselheiro económico de Durão Barroso, que constitui um excelente contributo para entender como a ajuda "solidária" e "generosa" dos nossos parceiros e que nos empobreceu foi, fundamentalmente, resultante da incompetência das lideranças da Comissão Europeia e da protecção dos interesses da banca francesa e, sobretudo, alemã. Nada de novo, apenas o reforço de que a via seguida, austeridade e empobrecimento, não era a única alternativa mas foi imposta para defender interesses particulares e aceite sem sobressalto por uma gente sem espinha que abdicou da sua soberania.
Recordo, aliás, que em Novembro de 2013, já alguns países europeus consideravam cada vez mais as políticas económicas da Alemanha como o principal obstáculo à resolução da crise económica que atravessamos, referindo-se que a Comissão Europeia iria desencadear uma investigação sobre os excedentes comerciais e as contas correntes alemãs. No entanto, a situação privilegiada da Alemanha é conhecida de há muito.
Recordo ainda dados de Julho de 2013 que mostravam como os grupos empresariais franceses e alemães foram os que mais beneficiaram das políticas de ajuda do BCE sendo prejudicadas as empresas espanholas e portuguesas. As taxas de juro do BCE decididas como medidas de apoio à economia e a forma como os bancos gerem as taxas de juro nos empréstimos às empresas, levaram a que, de acordo com a Comissão Europeia, as pequenas e médias empresas portuguesas, gregas, espanholas e cipriotas as que mais são penalizadas pagando taxas de juro bastante mais altas. Muito interessante e elucidativo.
Dados do Eurostat mostravam como de 2009 para 2012 os países do Centro e Norte da Europa ficaram mais ricos e os do Sul mais pobres, ou seja e como sempre, a crise tornou os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Para exemplificar, Portugal em 2009 tinha Portugal um PIB per capita 80% da média da EU27 para em 2012 passar para 75% tornando-se um dos quatro países com menor poder de compra.
A análise dos dados mostra como os países envolvidos em programas de austeridade impostos pela "ajuda" se afundaram em dificuldades e os países que generosamente "ajudam" vão enriquecendo. Deve ser a isto que chama solidariedade e coesão europeias.
Parece claro que para além das enormes responsabilidades políticas internas, importa considerar como, sem surpresa face a muitos dados já conhecidos, que os países mais ricos têm beneficiado fortemente com os pacotes de "ajuda solidária" dirigidos, impostos, aos países mais pobres com os resultados conhecidos.
Por outro lado e como também se sabe, as economias fortes do norte da Europa financiam-se a taxa zero ou mesmo, estranhamente a taxas negativas, enquanto nós, as economias do sul e a Irlanda pagamos juros altos cujo montante seria um excelente contributo para a redução dos nossos problemas de equilíbrio. Está certo, somos pobres, temos o dinheiro mais caro, os mais ricos têm o dinheiro mais barato. Deve ser isto a que chamam os mercados a funcionar.
Eu sei, estúpido que sou, que a economia e as finanças constituem uma matéria inacessível ao cidadão comum, mas parece-me, certamente de forma errada, que assim se torna mais difícil que os países em dificuldades deixem de ser pobres e que haja maior equidade e coesão económica e política na União Europeia.
Que não me levem a mal os nossos generosos amigos, mas às vezes até penso que é justamente isso que pretendem com a ajuda desinteressada que nos dão, que, naturalmente, temos de pagar mas que nos vai deixando pobres.
Tenho até medo de estar a ser injusto para com a sua generosidade e para com os feitores que em seu nome nos administram e estão de forma tão empenhada e eficaz a promover o nosso empobrecimento.

1 comentário:

Anónimo disse...


Artigo sobre o Ensino Superior no Jornal Público.

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/ensino-superior--um-equivoco-chamado-bolonha-1704592?page=-1

Abraço
Pedro.