domingo, 16 de agosto de 2015

DO CINEMA E DOS FILMES

No conjunto de trabalhos que têm vindo a ser apresentados no Público comparando em alguns domínios a situação em Portugal e o que se passa noutros países que desenvolvem que evidenciam situações ou políticas bem-sucedidas nessas áreas, fala-se hoje de cinema.
Em termos genéricos os portugueses apresentam dos indicadores mais baixos da União Europeia no que respeita ao consumo de bens culturais. Actividades como leitura, cinema e outros espectáculos culturais, visitas a museus e exposição não fazem parte de forma significativa dos nossos hábitos, mais destinados ao consumo de televisão ou de outros ecrãs de uso mais pessoal.
Os especialistas sustentam que esta situação, para além dos efeitos da crise na alteração de consumos, remete para aspectos de natureza educativa e para a política relativa à cultura e à sua valorização que tem sido seguida.
O universo da cultura vive e vai viver numa apagada e vil tristeza orçamental. Sabe-se como os museus têm dificuldade em manter portas abertas, para não falar dos problemas com investimentos e manutenção nos respectivos espólios. Muito do que se realiza em Portugal em matéria de cultura está dependente de apoios privados, carolice e mecenato e do que ainda algumas autarquias conseguem promover com orçamentos cada vez mais apertados. A crise instalada agrava, naturalmente, a situação.
No caso particular do cinema e ao longo dos últimos anos foram desaparecendo as salas de cinema, existem cidades portuguesas sem este equipamento. Existem muitas salas em que se passam filmes e comem pipocas mas as salas de cinema são cada vez menos e os filmes com mais qualidade fazem, com raras excepções, carreiras efémeras.
Não sendo ingénuo ou romântico sei que se pode esquecer o mercado.
Mas também sei que em matéria de cultura as leis do mercado transformam a arte em “produtos” que têm de ser rentáveis e apenas se justificam se rentáveis. As consequências são devastadoras, a normalização dos gostos e dos consumos, a produção do que apenas “se vende”, o que o “público” gosta. Não tenho nada contra a popularização da arte nem uma visão de elite cultural mas creio que as produções artísticas mais marginais, por assim dizer, são um factor de desenvolvimento e mudança imprescindíveis.
Neste contexto, apoios criteriosos, transparentes e regulados à produção e divulgação de diferentes formas de arte, incluindo o cinema, a protecção e divulgação do património cultural nas suas diferentes formas também contribuem para fazer a diferença entre países desenvolvidos e menos desenvolvidos e não entre países mais ricos ou mais pobres.

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