No conjunto de trabalhos que têm
vindo a ser apresentados no Público comparando em alguns domínios a situação em
Portugal e o que se passa noutros países que desenvolvem que evidenciam situações
ou políticas bem-sucedidas nessas áreas, fala-se hoje de cinema.
Em termos genéricos os portugueses
apresentam dos indicadores mais baixos da União Europeia no que respeita ao
consumo de bens culturais. Actividades como leitura, cinema e outros
espectáculos culturais, visitas a museus e exposição não fazem parte de forma
significativa dos nossos hábitos, mais destinados ao consumo de televisão ou de
outros ecrãs de uso mais pessoal.
Os especialistas sustentam que
esta situação, para além dos efeitos da crise na alteração de consumos, remete
para aspectos de natureza educativa e para a política relativa à cultura e à
sua valorização que tem sido seguida.
O universo da cultura vive e vai
viver numa apagada e vil tristeza orçamental. Sabe-se como os museus têm
dificuldade em manter portas abertas, para não falar dos problemas com
investimentos e manutenção nos respectivos espólios. Muito do que se realiza em
Portugal em matéria de cultura está dependente de apoios privados, carolice e
mecenato e do que ainda algumas autarquias conseguem promover com orçamentos
cada vez mais apertados. A crise instalada agrava, naturalmente, a situação.
No caso particular do cinema e ao
longo dos últimos anos foram desaparecendo as salas de cinema, existem cidades
portuguesas sem este equipamento. Existem muitas salas em que se passam filmes
e comem pipocas mas as salas de cinema são cada vez menos e os filmes com mais qualidade
fazem, com raras excepções, carreiras efémeras.
Não sendo ingénuo ou romântico
sei que se pode esquecer o mercado.
Mas também sei que em matéria de
cultura as leis do mercado transformam a arte em “produtos” que têm de ser
rentáveis e apenas se justificam se rentáveis. As consequências são
devastadoras, a normalização dos gostos e dos consumos, a produção do que
apenas “se vende”, o que o “público” gosta. Não tenho nada contra a
popularização da arte nem uma visão de elite cultural mas creio que as
produções artísticas mais marginais, por assim dizer, são um factor de
desenvolvimento e mudança imprescindíveis.
Neste contexto, apoios
criteriosos, transparentes e regulados à produção e divulgação de diferentes
formas de arte, incluindo o cinema, a protecção e divulgação do património
cultural nas suas diferentes formas também contribuem para fazer a diferença
entre países desenvolvidos e menos desenvolvidos e não entre países mais ricos
ou mais pobres.
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