domingo, 17 de maio de 2015

AOS VOSSOS LUGARES. VAI ABRIR A ÉPOCA DE EXAMES

Continuo pouco convencido de que a insistência obsessiva nos exames, muitos exames, sem que outras mudanças substantivas ocorram, verdadeiras alterações curriculares, efectiva autonomia das escolas e recursos suficientes para apoio ao trabalho de alunos e professores, só para citar alguns exemplos, contribuam de forma significativa para a qualidade da educação.
A introdução dos exames como panaceia da qualidade promove, do meu ponto de vista, o risco do trabalho escolar se organizar centrado na preparação dos alunos para a multiplicidade de exames que realizam como muitos professores têm vindo a alertar e é reconhecido, por exemplo pela OCDE em relatório de há algum tempo sobre a avaliação no sistema educativo português.
Acresce que com um calendário escolar desequilibrado levando a um terceiro período curtíssimo com a realização insustentável dos exames do 4º e do 6º a meio do período para permitir aulas de compensação aos alunos que obtenham resultados baixos, a situação é ainda mais complexa.
Atente-se nos testemunhos de pais, professores e directores sobre o funcionamento das escolas durante o curtíssimo terceiro período, sobretudo nos anos que têm exames nacionais, em particular os do 4º e 6º. O trabalho consiste, fundamentalmente, em preparar os alunos para exame, tarefa que está longe se constituir como "único" objectivo da educação escolar. Há ainda que considerar factores como a dimensão das turmas, as metas curriculares excessivas e burocratizadas que inibem a acomodação das diferenças entre os alunos ou a insuficiência de apoios às dificuldades de alunos e professores que terão certamente influência nos processos educativos e nos seus resultados.
Na verdade, quem conheça as escolas sabe que o terceiro período se transformou num período de preparação intensiva para os exames que deixa insatisfeitos professores e alunos, questão também associada ao aumento exponencial do recurso aos centros de explicações desde as férias da Páscoa e apenas acessível, naturalmente a algumas famílias.
Importa ainda não esquecer o início catastrófico deste ano lectivo com milhares de alunos sem aulas durante quase dois meses e que nada do que foi feito pode eliminar totalmente os efeitos.
Os resultados escolares no 4º ano e no 6º ano, nas condições de funcionamento e características das nossas escolas, não se melhoram com uma explicação intensiva realizada no 3º período do 4º ano e no período suplementar de aulas. Aliás, recordo, que no ano em que se introduziu para o 4º ano o período de compensação os resultados foram baixos, apenas 20% dos alunos recuperaram o que mostra a pouca eficácia do modelo. Os exames, a realizarem-se deveriam acontecer no final do período e, caso se entendesse a necessidade de uma "Nova Oportunidade ", o novo exame seria realizado algum tempo depois.
Julgo que deve ainda merecer referência o conjunto de implicações logísticas e funcionais da realização destes exames com a inaceitável "deslocalização" dos miúdos para realizarem exames fora das escolas que frequentam, vigiados por professores que não conhecem numa situação que traduz a desconfianças do MEC nos professores das escolas públicas, pois no ensino particular a situação não se verifica. Acresce ainda a necessidade de que os alunos dos outros anos de escolaridade não tenham aulas, situação que deixa as famílias com mais uma dificuldade.
Ainda a propósito dos exames e das condições de realização, algumas opiniões referem o stresse que isto poderá causar nas crianças. Não me parece que isto possa ser significativo ainda que em casos pontuais possa acontecer. O que verdadeiramente poderá causar stress nos alunos é o discurso dos adultos, pais e professores, sobretudo, sobre os exames. O clima que se cria decorrente da política educativa assente nos exames, a pressão para a excelência e para o alto desempenho é que podem ser factores promotores de ansiedade. No entanto, estou convicto de que a maioria dos miúdos vai lidar com os exames com "tranquilidade", para citar Paulo Bento.
Como tantas vezes afirmo, a qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos adequados e de vias diferenciadas de percurso educativo para os alunos sempre com a finalidade de promover qualificação profissional, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc. O problema é que de há muitos anos a educação anda à deriva das agendas políticas.
A insistência obsessiva nos corre o risco de sustentar um discurso demagógico, as referências a exigência e a rigor vendem bem, que deixa de lado os aspectos mais essenciais, a necessidade de promover qualificação para todos, sublinho todos, os alunos e, insisto, a disponibilização de apoios a alunos e professores.

1 comentário:

Anónimo disse...

Aulas à la carte ou uma semana de “recruta” na universidade?
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/aulas-a-la-carte-ou-uma-semana-de-recruta-na-universidade-1695796?page=-1

Como a Igualdade de género fez da Suécia um País + Rico.

http://www.publico.pt/mundo/noticia/os-campeoes-da-igualdade-continuam-a-lutar-1695342

Bom Domingo
Cumprimentos
Pedro.