Ao que parece, conta-se no Público, os municípios estão a sofrer a concorrência ilegal dos catadores ou farrapeiros, na recolha de papel e cartão para reciclar, uma actividade em relativo desaparecimento até há algum tempo em Portugal. Era coisa de outras paragens, mais pobres.
Na verdade, as agruras que a vida de muita gente atravessa fazem com que famílias inteiras se dediquem a esta actividade, aliás, frequente há alguns anos. Estes catadores retiram os materiais que estão depositados nos contentores municipais ou fazem mesmo a recolha directa junto de estabelecimentos, o que também é compensador para estes. Este negócio começa a reflectir-se negativamente nos rendimentos das autarquias.
O cenário que se descreve relativamente ao papel e cartão, vem juntar-se à coreografia da fome protagonizada por personagens de um filme negro que deambulam junto dos caixotes do lixo dos supermercados, catando os restos e sobras de alimentos que, no espaço da UE, representam metade do que se consome, segundo números oficiais divulgados por Bruxelas recentemente que sublinhavam a existência de 79 milhões de pessoas em risco de pobreza e exclusão, 2,7 dos quais em Portugal.
Esta referência aos catadores de papel, recordou-me o notável e lindíssimo “Os Respigadores e a Respigadora”, de Agnès Varda, sendo que não é uma obra de arte, é uma acusação pesadíssima.
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