Hoje, não vislumbro a razão, lembrei-me com enorme nostalgia dos tempos em que jogava ao berlinde. Há muitos anos.
Lembro-me da minha bela colecção sempre em actualização, com os berlindes, também lhes chamávamos bilas ou carolos, as esferas de metal, os abafadores, as leiteiras, as pilecas, os olho-de-boi, etc., numa variedade de cores e valores que serviam de moeda de troca para gerir as colecções ou se perdiam e ganhavam no jogo das covas.
Não era um jogador de excelência mas tinha um divertimento excelente. A minha mediana pontaria não chegava para bater o genial Xico, o imbatível cromo do berlinde na minha rua.
Nos jogos com o Xico as apostas tinham que ser pelo mínimo, caso contrário arriscávamos um rombo sério na colecção. Tentávamos compensar escolhendo adversários mais acessíveis, com um ranking mais baixo como hoje se diria, que nos davam alguma garantia de acabar a sessão com mais uns berlindes no saco.
Usava os berlindes nuns sacos pequeninos de pano que a minha mãe, costureira, fazia aproveitando as sobras do trabalho dela. Um saco de berlindes e uma fisga constituíam o equipamento de saída para a rua, o cenário de todas as brincadeiras. É verdade, já houve tempos em que se brincava na rua.
Os renhidos jogos eram pretexto para acaloradas discussões, às vezes, mais do que discussões, mas crescíamos assim, percebendo limites e fronteiras para além, deve dizer-se, do peso das mãos dos outros que, à vez, eram nossos amigos ou nossos adversários. Nas mais das situações os conflitos surgiam da excessiva “elasticidade” com que medíamos o palmo, o ganso como lhe chamávamos, que nos levava a ficar mais perto do berlinde inimigo, facilitando a tarefa de lhe acertar. Lembro-me de a importância de, ao aceitar ou fazer um desafio para um jogo, gritar primeiro “marralhos p’ró carolo ao ganhas” que nos assegurava ser os últimos a iniciar o jogo e já ter os berlindes adversários no teatro de operações, como agora falam e escolher a táctica.
Na minha terra, há já alguns anos que não vejo os miúdos a jogar ao berlinde, devem, seguramente, estar a fazer outras tarefas que dão mais resultado e são boas para mais áreas do seu desenvolvimento, não podem perder tempo com actividades estúpidas e antigas.
Na verdade, também já não podem brincar na rua, é perigoso e a rua também já não permite as covinhas, só em zonas de terra.
Na verdade, também já quase não brincam.
Mas o futuro é risonho e feliz. Produzem e aprendem coisas fantásticas desde pequenos, para não perder tempo. Tempo é dinheiro.
2 comentários:
Eu tb jogava e adorava!!!
Pena q as criancas n tenham a alegria de brincar na rua e deixarem as PS de lado. O mundo da tecnologia é assim! Mas será q os pais n tem tb alguma culpa? Os meus filhos brincam na rua e n tem PS ... mas n estou em Portugal!
Não há nenhuma incompatibilidade entre os berlindes e as PS.
Enviar um comentário