Devo confessar que tenho alguma dificuldade em entender a relação que o Ministro Nuno Crato estabelece com a questão dos exames escolares.
Desde há muito que boa parte do seu pensamento educativo, se assim se pode chamar, se centra na promoção de mais exames como forma de melhorar a qualidade e os resultados dos alunos. Não estando, evidentemente, em discussão a importância , a vários níveis dos exames, escapa-me como o seu aumento produza, só por si, qualidade e mudança. Como costumo afirmar, é como se acreditássemos que medindo muitas vezes a febre esta acabará por baixar.
Em todos os patamares dos sistema educativo em que se realizam exames, sempre se organizaram, por razões óbvias, duas fases. Como também não é estranho, a existência das duas fases permite que os alunos organizem a sua agenda, repartindo a realização dos exames, numa tentativa de conseguir mais tempo de preparação. Compreensível e nada de estranho.
No entanto a coisa vai mudar. O Ministro Crato embirra com isto e, portanto, decidiu obrigar a que, em todos os exames nacionais, os alunos tenham que se apresentar na primeira fase, não podendo optar. A justificação é curiosa, "o que não pode acontecer é os alunos fazerem os exames quando lhes apetece", "Estamos a prejudicar todos com isso. Estarmos a prejudicar o processo de entrada no ensino superior e o funcionamento das escolas", afirmou o Ministro.
Não colhe, os alunos não fazem os exames quando lhes apetece, fazem-nos nas datas que o MEC determinar e haverá sempre duas fases pelo que, podem ir à primeira "para cumprir calendário" e voltar à segunda para "melhorar a nota". Não percebo pois em que é que a situação anterior "prejudica todos" e as escolas.
Quanto ao processo de entrada no ensino superior, afirmo de há muito que o acesso ao superior deveria ser da responsabilidade das instituições de ensino superior que frequentemente reclamam a responsabilidade para escolher os seus alunos mas não reclamam o processo de escolha, algo de contraditório. Assim os exames nacionais no secundário deveria destinar-se a certificar a conclusão do secundário e o processo de candidatura e acesso ao superior constituir um processo separado no qual se contemplaria, naturalmente, a classificação obtida no secundário. Existindo como é normal, duas fases de exame, continuo sem perceber as implicações que a decisão do Ministro Nuno Crato tem no acesso ao superior que, insisto, assenta um modelo inadequado.
Uma última nota relativa à orientação do Ministro que se encontra no sítio do GAVE, "os exames nacionais não devem incluir questões demasiado simples para o nível de escolaridade a que se destinam". Certamente estarei errado, mas parece-me um pouco aceitável atestado de incompetência aos serviços. É suposto que o trabalho seja competente e os exames adequados. Se não são, ou não eram, que se apurem responsabilidades e se tomem decisões. Produzir esta orientação é que me parece estranho.
Deve haver algo que me escapa na fixação que o Ministro Nuno Crato tem com a questão dos exames.
Sem comentários:
Enviar um comentário