quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O PRIMEIRO CIGARRO

A propósito de um texto que há umas horas coloquei no Atenta Inquietude sobre a questão dos consumos entre adolescentes e jovens, veio à memória o meu primeiro cigarro, melhor dizendo, o meu primeiro maço.
Naquela idade em que queremos crescer depressa, para fingir que crescemos adoptamos comportamentos dos mais crescidos, o cigarro era uma das opções de “aceleração” do crescimento.
Dado que o dinheiro não era muito, aproveitei a boleia do meu primo, apenas com uns meses a mais e que também queria ser crescido, para experimentarmos em conjunto.
A experiência, no que respeita aos recursos envolvidos até ficou barata, nós os dois fornecemos a mão-de-obra e a vontade e o meu primo surripiou da loja do pai um maço para o grande evento.
No dia aprazado, o meu primo aparece com um maço, se não me falha a memória, da marca Sintra que tinha uma novidade, filtro de cristais, isso lembro-me bem e dava um ar mais sofisticado à experiência. Tratava-se agora de escolher o palco. Optámos por nos sentarmos debaixo de um damasqueiro numa quinta perto das nossas casas, naquele tempo havia quintas na zona onde morava. E começámos.
Com muita tosse, caretas, falta de jeito, e, finalmente uma dor de cabeça e uma sensação de nauseado que não tinha jeito, quase despachámos o maço e, quase nos despachámos a nós, tal era o mal-estar.
Quando voltámos, meio enjoados e com um fardo enorme aos ombros, vínhamos a pensar que se calhar não sabíamos fumar, porque as pessoas que fumavam pareciam gostar e ficar bem e nós estávamos num estado lastimável.
Na verdade, crescer não é fácil, dá algumas dores e embaraços. Eu que sou um tipo persistente e queria mesmo crescer, aprendi a fumar, sempre tabaco sem filtro e depois o cachimbo, e assim continuei por muitos anos.
Um dia, achei que já não precisava de crescer mais e deixei de fumar. Às vezes ainda tenho saudades.

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