O Parlamento chumbou sem surpresa a possibilidade legal de adopção por casais do mesmo sexo. Para além da hipocrisia e calculismo político-partidário de algumas posições das diferentes bancadas, algumas notas sobre a essência, a homoparentalidade.
A questão da adopção por parte de casais homossexuais é, na maior parte das vezes, dirimida mais em torno dos valores que da racionalidade da argumentação. Sem querer, nem sequer consigo, trazer nada de novo para a discussão, apenas umas notas.
As três grandes preocupações ou obstáculos mais frequentemente aduzidas para impedir a adopção por casais homossexuais são a eventual dificuldade da criança em lidar com a sua orientação sexual, a vulnerabilidade psicológica e problemas de comportamento e o risco de discriminação nos contextos escolares. Como foi afirmado há algum tempo numa conferência realizada em Lisboa sobre a homoparentalidade, uma revisão exaustiva de estudos sobre estas questões realizada pela Associação Americana de Psicologia não confirmou nenhuma destas preocupações o que também transparece em alguns testemunhos expressos num trabalho que o Público realizou na altura.
Neste sentido, podemos também lembrar que a maioria das pessoas homossexuais terão sido educadas em famílias heterossexuais, que existem crianças com sérios problemas emocionais e vulnerabilidade psicológica a viverem situações familiares heterossexuais e, finalmente, que existem múltiplos casos de crianças discriminadas em contexto escolar o que não nos faz retirar de lá as crianças mas, pelo contrário, combater a discriminação.
Do meu ponto de vista e de uma forma propositadamente simplista, a questão central é o que faz mal às crianças é serem maltratadas e os maus tratos não decorrem do tipo de famílias mas do tipo e competência dos pais. Quando as crianças são bem tratadas e crescem com adultos que gostam delas, as protegem e as ajudam a crescer elas encontram caminhos para lidar com dois pais ou com duas mães.
O que as crianças quase sempre não sabem como resolver é quando têm por perto adultos, heterossexuais, que não gostam delas, que as maltratam, negligenciam, abandonam, etc. Isso é que faz mal às crianças.
O resto é uma discussão não conclusiva, assente em valores de que não discuto a legitimidade, mas que não podem ser confundidos com um discurso de defesa das crianças de males que estão por provar.
É mais importante defendê-las dos males comprovados e que todos os dias desfilam aos nossos olhos.
10 comentários:
Não vou opinar sobre qualquer um dos tópicos de contestação à adopção, honestamente muito pouco conheço dos estudos realizados e ainda menos sobre Psicologia Educacional para sustentar uma base teórica. Infelizmente é onde frequentemente os "opinanços" abundam: "ACHO QUE os putos vão ficar traumatizados", "ACHO QUE no desenvolvimento psicossexual da identidade é isto e cozido", frequentemente usados e abusados para extrapolações abusivas e muita sardinha puxada à brasa da crença individual.
Mas uma coisa é certa, novamente, tivemos uma manifestação do Estado Conservador. À Esquerda e à Direita demonstrámos o conservadorismo característico das nossas equipas politicas, onde novamente, o Estado demonstrou que acredita que deve estar presente na rua, no trabalho, na economia, na escola, em casa, e porque não?, na família. Mais uma vez o Estado Português olhou para nós, humildes ignorantes e disse: "Estas bestas precisam de uma mão orientadora, não sabem o que é bom para eles. Felizmente, nós os iluminados, sabemos, e como tal, vamos insurgir a nossa abusiva presença à força".
Portanto não há liberdade.
Não há liberdade de se constituir família e/ou adoptar porque o Estado decidiu por nós que há situações melhores do que outras. Abençoado seja mais o seu paternalismo nojento. Infelizmente o quadro politico é conservador para todos os lados, essencialmente só varia a modo como Os Iluminados olham a Escumalha, vulgo, nós; à Esquerda o tecido social é "um bando de coitadinhos ignorantes que precisam de ajuda e orientação", à Direita, "um bando de potenciais criminosos, ladrões e desordeiros se não lhes pomos as mãos em cima a tempo".
O Estado decidiu que o melhor para todos era que as famílias homossexuais não pudessem adoptar, e como deuses, escrevem direito por linhas tortas e semelhantes tretas afim, portanto quem somos nós para duvidar. O Estado decidiu meter-se na família e ordenar o que é correcto ou errado...parece perfeitamente legitimo.
Já ordena em excesso nas escolas, já ordena em excesso na economia, já ordena em excesso no bolso do país, o que é ordenar na privacidade de um projecto de vida familiar?
Bem escrito
A opinião do PCP parece-me perfeitamente razoável, dado que como já escrevi aqui, a adopção por homossexuais é um fenómeno recente, e ganharíamos muito em esperar para ver o desenvolvimento das crianças em países em que tal já foi legislado. Por exemplo estudos longitudinais.
Repito que a minha opinião, nada tem a ver com a competência parental dos homosesxuais ou eventuais discriminações na escola, nem com a futura orientação sexual dos filhos adoptados.
A minha prudência prende-se com a minha preocupação na formação da imago parental do sexo oposto dos progenitores, por parte da criança.
Podemos sempre apresentar exemplos de situações de sucesso ou de fracasso, mesmo nos casos de pais psicóticos e a relação com os filhos.
Devo também referir que a situação da adopção por casais homossexuais não é semelhante aos orfãos dos pais que morreram na guerra, porque, tal como Lacan, escreveu há muitos anos, quem introduz a ideia de pai na criança é a mãe, e se a mãe transmite uma boa imagem do pai ao filho, ele sai reforçado.
Também temos que pensar que a problemática da saúde mental das crianças não tem a ver só com os maus tratos. O "excesso" de amor também mata, ou seja muita da patologia mental que vemos em clínica, tem a ver com as relações fusionais entre pais e filhos.
Quanto à opinião da APA, vale o que vale, são como os pareceres jurídicos, há-os para todos os gostos.
Em relação primeiro comentário no que concerne ao Estado, faz-me lembrar aqueles adeptos que vimos nas bancadas dos estádios de futebol a querer matar e esfolar o árbitro e os jogadores adversários, devem ser uns autênticos tigres em casa!
Abraço
António Caroço
"A opinião do PCP parece-me perfeitamente razoável"
É enquadrado num partido conservador como o é o PCP.
Não há nada de "razoável" na restrição das liberdades individuais. Como também não há nada de razoável em toda a ideologia comunista, mas cada um pinta a demagogia com os eufemismos que quer não é verdade?
"ganharíamos muito em esperar para ver o desenvolvimento das crianças em países em que tal já foi legislado. Por exemplo estudos longitudinais."
Portugal foi dos primeiros países a abolir a pena capital. A responsabilidade democrática não carece de estudos longitudinais. Já agora, apresentados por quem, pela APA, que "vale o que vale"?.
Sejamos honestos, há aqui viésseis pessoais que em nada dependem de análise cientifica.
"formação da imago parental do sexo oposto dos progenitores, por parte da criança."
Riscos tais como os profetizados por Jung e Freud relativamente à educação por progenitores do mesmo sexo deveriam manter-se longe da Psicologia cientifica, que felizmente tem avanço suficiente para podermos enquanto Psicólogos descartar estes contos de fadas.
"Quanto à opinião da APA, vale o que vale, são como os pareceres jurídicos, há-os para todos os gostos."
Por onde começar?
A APA tem o rigor metodológico e tratamento estatístico que valida o "parecer", muito longe de "valer o que vale", ao contrário da Psicologia Opinativa que tanto se pratica, nem tão pouco são fruto de um opinador. Novamente temos um enviesamento, a APA assume uma posição desfavorável à crença, portanto, há que demonizar.
"Em relação primeiro comentário no que concerne ao Estado, faz-me lembrar aqueles adeptos que vimos nas bancadas dos estádios de futebol a querer matar e esfolar o árbitro e os jogadores adversários, devem ser uns autênticos tigres em casa!"
Pode elaborar o paralelismo entre o liberalismo social e o futebol? Não consigo imaginar como se impõe liberalismo social numa casa (?), mas acho que talvez (eufemismo) não tenha entendido o comentário. Metáforas desportivas sempre me escaparam, tal como o desrespeito pelo direito individual, e abomino comentários de "toca e foge"; claro que não espero nada inteligente, mas se tiver tempo...
Compreendo claro que estou novamente na presença dos seus viésseis pessoais que transpiram homofobia, mas a contra-argumentação inteligente seria simpática.
Não sei se conseguirei fazer uma contra-argumentação inteligente, mas não me preocupa, porque para mim é mais importante o carácter das pessoas do que a inteligência.
Em relação à sua preocupação científica da psicologia apetece-me referir a frase popularizada por Mark Twain: "There are three kinds of lies, lies, damned lies and statistics".
Com deve saber a APA é um Franchising Americano exportado para o resto do mundo, possui uma linha editorial com uma agenda política, cujas regras temos de cumprir nos trabalhos académicos, e são geridos pelos mesmos senhores que publicam o DSM, as grandes companhias farmaceuticas.
Uma das diferenças entre Jung e Freud, é que o primeiro teve várias amantes no divã e o outro teve seis filhos.
A sua preocupação da ordenação do Estado no projecto de vida familiar é vã, porque não é o Estado que o vai impedir de adoptar crianças, desde que passe na avaliação psicológica segundo as normas da APA, nem de ser de bígamo, e muito menos polígamo, se isso for trabalhado dentro do casal.
Tem de me explicar o que o liberalismo social, é "putas e vinho verde"? O que é que é?.
Quanto ao toca e foge, tenho uma coisa muito boa, é que assino sempre os meus comentários.
cumprimentos
António Caroço
Agora não se tem pudor na homofobia!? Genial!
Que grande besta António! Uma besta presunçosa que escreve muito com nenhum conteúdo mas lá pensa que parece esperto!
Uma opinião para o 1º Anónimo: Como economista acredito na economia monetária na regulação da macroeconomia! Não penso portanto que há excesso de estado, penso que há estado errado. A politica monetária é feita para padrões Alemães não Portugueses o que resulta em asneira!
Li tudo, mas não trouxe um notário para assinar a minha entrada:
Henrique Moniz para quem interesse.
Exmo. Dr. Moniz,
quem diz a verdade não merece castigo.
Caro 1º anónimo,
se não percebeu a metáfora desportiva atente nas palavras do Dr.Moniz, que me chamou besta presunçosa. É uma situação em tudo similar aos adeptos que insultam o árbitro e os jogadores adversários, só que o Dr.Moniz em vez de estar na bancada está à frente do computador.
Mas aposto consigo, caro anónimo, que na hora de levar o lixo à rua e a mulher ou o marido do Dr.Moniz ralha, ele pia fininho.
Saudações
António Caroço
Eu bem disse que as discussões sobre estas matérias nunca são conclusivas ... mas são são estimulantes
Boa noite
Acerca do chumbo no parlamento da lei de adopção de crianças por pais do mesmo sexo.
Confesso-lhe que me deixou indignada...
Não seria lógico de se prever, pois vivemos num pais algo passivo, mas mesmo assim cuidador ( será inocência?!).
O professor não acha que para crianças que vivem num orfanato é preferível uma família de pais do mesmo sexo do que nao ter nenhuma?!
Será preferível deixar uma criança ate aos 18 anos numa instituição, porque teve azar e ninguém a escolheu;
Não seria preferível pois aumentaria e muito as hipóteses para tantas crianças.
Pois porque apesar de não poderem adoptar as mulheres homosexuais podem ter filhos e que ninguém pode fazer nada face a isso.
Escrevo-lhe porque me faz confusão que existam tantas famílias ditas normais, que não tem capacidade moral ou psicológica de educar crianças e que um
factor como a escolha de um parceiro sexual do mesmo sexo, os torne indignos de o fazer.
è preciso que exista uma mae e um pai na familia, argumentam eles, e eu pergunto - e as familias monoparentais? e o pais ausentes/ desconhecidos? e se n existir nenhum parente que ocupe a figura parental em falta....
Júlia
querida Julia,
de facto aquilo que diz tem toda a pertinência, e como tal já comentei num post anterior sobre o mesmo tema, dadas as condições de institucionalização das crianças no nosso país, a adopção por casais homossexuais pode e deve ser considerada.
Cumprimentos
António Caroço
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