O Ministério da Saúde vai lançar uma interessante experiência em alguns Centros de Saúde. Todos os utentes que não recorrerem ao Centro de Saúde, ao seu médico de família, durante três anos, recebem uma certidão de óbito administrativa, ou seja, são expurgados (palavra simpática esta) e são substituídos na lista do médico de família por outro utente que adoeça mais vezes, embora mantenham a possibilidade de, se um dia decidirem adoecer, voltarem à lista.
É evidente que se sabe que em muitos serviços, não só na área da saúde, as bases de dados são pouco fiáveis numa demonstração de ineficiência nunca responsabilizada.
No entanto, a "limpeza", por assim dizer, não precisava de ter estas características.
A medida recorda-me a tentação do governo anterior torcer os números, por exemplo na certificação escolar no âmbito do Programas Novas Oportunidades, para fazer crescer os dados relativos à qualificação escolar.
Na prática, eu, que felizmente sou um tipo saudável, se não tiver uma doençazita durante três anos, sou expurgado, saio da lista do médico de família, e quando precisar de cuidados terei mais dificuldade na medida em que a lista de utentes do médico de família foi engrossando à custa dos cidadãos que não adoecem. Ao que parece, também temos que ser produtivos nas doenças, temos que regularmente mostrar alguma.
O resultado é engraçado, algumas das milhares de pessoas que não têm médico de família passarão, graças este expediente, a constar na lista da gente que já tem médico de família e a estatística lá se vai compondo.
Não estranho que tomem medidas deste tipo. O que me chateia verdadeiramente é acharem que somos parvos, é uma questão de auto-estima.
3 comentários:
Vão pro caralho seus comunas de merda!!!
Vejamos as coisas por outro prisma...Eu tinha médico de familia, nunca lá fui, não por não ter estado doente mas por ter optado por outras soluções no privado. É justo para quem não tem? Quando quis voltar, já não tinha (não sei se me expurgaram ou se a minha médica saiu!).
Ter uma filha obrigou-me a procurar de novo os centros de saúde e agora tenho médico de família a que recorro quando necessito.
Como eu, há provavelmente muita gente que não recorre ao médico de família por opção.
Além disso, o médico de família é importante na medicina preventiva. Ou seja, há um conjunto de exames que devem ser feitos regularmente e talvez faça algum sentido deduzir que um utente que não recorre ao seu médico nesse período de tempo o faz por opção.
A medida permite realmente manipular as estatísticas, mas tem, na minha leitura, alguns aspectos positivos. De qualquer forma, conviria perceber exactamente quem são esses utentes 'fantasma´ e porque não recorrem ao médico. Haverá algum estudo sobre isso? E será que há algum esforço sério de limpar as bases de dados? Pela minha experiência, acredito até que há utentes registados em vários centros de saúde.
Como eu disse no texto, parece-me necessário que as bases e dados sejam fiáveis e actualizadas. A questão é como fazer esse trabalho. Não me parece ajustada a forma encontrada, assente no não aparecimento durante três anos. Só isso.
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